Educadores da região norte discutem o desenvolvimento da Amazônia

A ocupação da Região Norte do país e os impactos ambientais e sociais dos sucessivos projetos de desenvolvimento econômico da região Amazônica ocuparam o centro da pauta no primeiro dia do III Encontro Regional Norte da Rede de Educação Cidadã, realizado, com o apoio do Talher(AM), no Centro Vicente Palloti, em Manaus, de 1 a 4 de dezembro.

MANAUS-AM – Segundo o professor Jessé Rodrigues dos Santos, da Faculdade Salesiana Dom Bosco, o desenvolvimento da Amazônia sempre foi pensado na ótica de do fortalecimento da Administração Pública e dos empresários nacionais  internacionais. Tal qual aconteceu com a colonização do Brasil, o povoamento da Amazônia se deu mediante a exploração das populações e riquezas locais, afirmou.

O professor lembrou que frases como “Uma terra sem homens para homens sem terra” foram amplamente divulgadas em outras regiões brasileiras para atrair levas de emigrantes que chegaram à região com o objetivo, sobretudo, de explorar os recursos e não de pensar um modelo de desenvolvimento a  partir das necessidades locais.

O resultado da ocupação da região e seus sucessivos ciclos de desenvolvimento (frentes de expansão, ocupação fundiária, extração da borracha, madeira, minérios e o agro-negócio), segundo Jessé, provocou a dizimação quase completa das populações indígenas, degradação ambiental,  apropriação privada de parte do Estado brasileiro por famílias tradicionais e a exclusão social nas grandes capitais da região.

Um exemplo da situação é o caso da malária em Rondônia. Com a  construção de barragens no Estado, segundo Jorge Gustavo, educador do Talher-RO, o número de casos de malária pode saltar dos atuais 38 mil para mais de 300 mil. A construção de nove hidrelétricas e cerca de 80 barragens também é um problema para o Tocantins. “Este projeto vai provocar o despejo de grande número de famílias trabalhadoras rurais”, alertou a educadora do Talher-TO, Maria de Fátima Dourado.

Hoje na Amazônia, garante o professor Jessé, outros ciclos se fortalecem de forma muito acelerada sem que os governos e a sociedade estejam atentos: o ciclo do narcotráfico que recruta os desempregados nos grandes centros urbanos; o agro-negócio, com a expansão da soja; e a biopirataria com o patenteamento de produtos da região por empresas de outros países.

Nada de participação popular – Nenhum dos projetos de desenvolvimento, reafirmaram o historiador Iremar Antônio Ferreira e o economista José Ricardo Wendling, em uma mesa redonda que aprofundou “A formação econômica e social da região Norte do país”, levou em conta os reais interesses das populações e em especial da população indígena.

O desafio, afirmam, está em construir uma metodologia para ajudar a população a definir suas prioridades e a incluir estas demandas em um projeto de desenvolvimento que realmente seja sustentável tanto social como ambientalmente.

Wendling chamou a atenção dos participantes para a importância de pensar a atuação de instituições como o Banco de Desenvolvimento da Amazônia; a Agência de Desenvolvimento da Amazônia; o Sistema de Proteção da Amazônia, antigo Sivam; e a Suframa, órgão criado pelo governo federal para administrar as zonas de livre comércio como a Zona Franca de Manaus.

O economista provocou os educadores populares para pensarem sobre qual o papel destas instituições e como a sociedade brasileira vai acompanhar e fiscalizar a sua atuação, fazendo-as incorporar as demandas históricas da sociedade.

Na abertura do encontro, do qual participam 45 educadores/as populares dos estados da região Norte, o bispo auxiliar de Manaus, Dom Sebastião Coelho, reafirmou o apoio e parceria ao trabalho da Rede de Educação Cidadã/Talher e afirmou que a sua ação, a despeito do desencanto geral, pode ser um sinal de esperança para a população.

Segundo a educadora Maria Cavalcante, membro da coordenação do Talher Nacional, o encontro tem o objetivo de ser um espaço de partilha e construção de saberes e de planejamento das ações da Rede na região norte.

Além da análise de conjuntura e do aprofundamento da formação cultural, econômica e histórica da região, o III Encontro ainda prevê a realização de oficinas sobre “Desenvolvimento Sustentável da Amazônia”, “Sistematização das Experiências”, “Organização das Cidades da Amazônia” e “Captação de recursos para projetos sociais”.

O grupo de educadores vai discutir também a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e a militarização da Amazônia com a ajuda do representante da Consulta Popular na região, Vasconcelos Filho, e levantar propostas de atuação para a Rede de Educação Cidadã na região.

Willian Bonfim

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