Carta Pedagógica Encontro Macro Sudeste

 VI Encontro Macro Sudeste de 27 á 29 de abril de 2012.

“Para caminharmos em harmonia, precisamos construir juntos, pois transformação só se dá com todos inseridos no processo e suas contribuições individuais e coletivas”.Paulo Freire

Belo Horizonte, 29 de abril de 2012.

    O encontro macro começou no dia 26 de abril, com a chegada educadores/as liberados e voluntários que juntos constroem a rede na região Sudeste. São Paulo e Espírito Santo vieram de ônibus, uma viagem bem longa e cansativa, mas que vale a pena, podendo ver as paisagens e aprofundar os assuntos no caminho. O Rio de Janeiro chegou de avião, pois a rúbrica de transporte terrestre não cobria todos os translados. E Minas Gerais estava a nos esperar com os famosos pães de queijo!

   Faustino, da CN pela região Norte, também esteve presente para acompanhar, contribuir com a atividade e trocarmos experiências. Terezinha, da equipe pedagógica do Camp, também foi convidada para aprofundarmos juntos os processos dos relatórios pedagógicos, e avançarmos nos acordos e na realização do aditivo. Educadores/as de seus estados estavão presentes representando seus movimentos, organizações e coletivos e compondo a diversidade da região. O movimento indígena, a economia solidária, a juventude, mulheres, negros/as, a periferia, trabalhadores/as em busca de diálogos e práticas para a construção de outra realidade, outra sociedade.

   Minas ficou responsável pela mística de acolhimento. Logo pela manhã, a Canção da Terra, de Pedro Munhoz, emocionou e encantou o momento. A programação foi apresentada e o objetivo deste encontro foi reforçado como momento de formação, organização, fortalecimento e construção de laços da região. Muitas pautas organizativas, como: a Cúpula dos Povos; o representante da região sudeste, que vai acompanhar o GT de pesquisa; o representante da juventude, que irá acompanhar o processo de construção do Encontro Nacional de Juventude; consolidarmos a metodologia da Comissão Nacional; e decidir quem serão o/as novo/as representantes junto à CN. Foi possível partilhamos e avaliamos o XI Encontro Nacional e a Primeira Reunião Ampliada do ano. Não tivemos tempo de focar nos Planos de Trabalho para 2012, mas o encaminhamento foi que os estados fariam as leituras, as avaliações e enviariam suas consideração até o dia 25/05 para que os/as representantes/as da CN partilhem na reunião nacional.

   O momento de definir critérios e papéis para contribuir com a Comissão Nacional não se prolongou muito, pois os educadores/as já vem debatendo e se afinando para compreender e fortalecer este espaço enquanto região. Luana (SP) e Cris (RJ) saem desta representação antes de 2 anos, pois acredita-se que a região, com a nova metodologia, evoluiu ao compreender que os 4 estados devem acompanhar juntos todo o próximo triênio. Não no sentido de enfraquecer a CN com esta renovação e sim de garantir a representação da macrorregião, em todo o processo de implementação do PNF e das políticas da rede até 2014. Ficamos, então, com Rosely (MG) e Sandra (ES) como titulares e Alânia (SP) como suplente. O Rio de Janeiro vai fazer a sua indicação de suplente mais para frente, o estado está em momento de avaliação e planejamento das ações, e pós dia 13 de maio fará a sua indicação. Portanto, Rosely e Sandra, nos próximos 1 ano e meio, serão as representantes titulares da região e estarão em constante diálogo com os/as suplentes Alânia e o/a representante do Rio de Janeiro, para, junto/as, acompanharem a rede nacional e a região sudeste. Após este primeiro 1 ano e meio, os/as suplentes/as se tornam titulares, garantindo que as quatro pessoas de referência de cada estado estejam pautando, vivenciando e comunicando todo este período de 2012 à 2014.

Um pouquinho do histórico destas educadoras populares militantes:

Rosely Augusto tem experiência de assessoria às lutas e à educação do campo, em Minas Gerais. Hoje, atua pela Recid, numa das cidades mais pobres da região metropolitana de BH, apoiando as mobilizações e articulações pela melhoria das condições de vida.

Sandra Valentim atua junto aos movimentos sociais e já contribui no Espírito Santo com a ASA – Articulação do Semi Árido Brasileiro. Contribui no processo de articulação da AP no estado. Também acompanha um grupo de mulheres agricultoras do município de Boa Esperança e é membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos, representando a Caritas da Diocese de São Mateus. Acompanha a Recid desde 2006 e faz parte da gestão compartilhada no seu Espírito Santo.

Alânia Cerqueira atua junto aos movimentos sociais e coletivos culturais na periferia da Zona Sul de São Paulo. Realiza articulação e estimula mobilizações na construção de políticas públicas de juventude, cultura e gênero. É educadora popular da RECID/SP desde 2011 e participa da equipe de gestão compartilhada.

   As outras pautas de organicidade foram encaminhadas da seguinte forma: um grupo representante da juventude na região se reuniu para dialogar sobre a proposta do Encontro Nacional  da Juventude e sobre quem seria o representante para contribuir na construção do encontro. Definiu-se que dezembro não é um bom período para a participação dos jovens. Devemos repensar melhor esta data nacionalmente. Precisamos também ampliar a participação do Hip Hop nesta construção. E definiu-se, então, dois nomes para acompanhar o processo: Heider (Levante popular/ES) e Dilson (Pastoral da Juventude/RJ). Achamos que se fosse possível que duas pessoas por região acompanhassem este processo seria mais rico. Mas, se não, encaminharemos o titular e [o] suplente.

   Sobre a Gestão da Informação da Recid, muitas incertezas e confusões apareceram. Mas, foi definido que a Helena (SP) fará este acompanhamento por conta da seus estudos sobre Metodologia, realizados no período de sua formação em Filosofia, e de seus trabalhos desenvolvidos e apresentados na Universidade São Judas Tadeu (USJT) e na Universidade de São Paulo (USP). Indicação estratégica para que este GT não seja engolido por falta de experiência neste campo.

   Dialogamos sobre a Cúpula dos Povos. Encaminhamos a importância de nos aprofundarmos neste debate para podermos contribuir com o processo e discutimos se é possível realizarmos ações localmente, que venham a somar neste movimento de projeto de sociedade e meio ambiente. E discutimos sobre a possibilidade de usufruirmos mais da Comunicoteca, que terá uma edição espec
ífica sobre a Rio+20/Cúpula dos Povos. O Rio de Janeiro, é o responsável pela infraestrutura, está se articulando para verificar as possibilidades de hospedagem para a Recid. São Paulo está verificando a possibilidade de ir de transporte terrestre para a Cúpula, transformando as duas passagens aéreas em um valor que venha a contribuir com a viabilização deste transporte, facilitaria em muito, mesmo pois o estado precisa garantir hospedagem e alimentação para os educadores/as. O estado pretende fortalecer a atividade que a Recid nacional está construindo para a Cúpula, portanto seria muito importante ficarmos, se possível, em um mesmo local.

   A região saiu do encontro com uma Carta de Repúdio encaminhada à Presidenta da República, ao Ministro Gilberto Carvalho, ao Incra e ao Ministérios do Desenvolvimento Agrário, explicitando a sua indignação com o corte de 70% nos recursos destinados à reforma agrária, ao Pronera (Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária). Isto inclui implica menos recursos para os técnicos responsáveis em por acompanhar e fortalecer os assentamentos. Ainda persiste a interpretação de que estes são gastos de custeio e não de investimentos para o nosso país.

   Nestes 3 dias de encontro foi possível prestigiar uma batalha de batalha de mc’s no Viaduto Santa Tereza, no centro de Belo Horizonte, na noite do primeiro dia. E na noite cultural fomos até a Assembléia Legislativa, participar do evento do 4º Encontro dos Movimentos Sociais. Nosso grupo participou apenas como espectadores do momento cultural, grupos de rap e de rock se apresentaram. O Alan (SP), o Gaspa (RJ) e o Rodrigo (SP) tiveram até uma oportunidade de mandarem suas letras em Minas Gerais.

   Formamos uma equipe de comunicação que se reuniu com o Eduardo (secretariado) para tirar dúvidas sobre a alimentação do site. Foi um momento muito rápido por conta sempre do tempo corrido, mas foi possível esclarecer alguns procedimentos, lançar o tutorial passo a passo que o Eduardo construiu para facilitar os processos. Cada educador/a criou o seu login do seu estado. Então, agora postaremos notícias enquanto Recid-SP, Recid-MG, Recid-ES e Recid-RJ.

   Tivemos praticamente 8 horas de formação. Pouco tempo para muito conteúdo e muitas disputas de ideias. Mas foram momentos muito ricos de aprendizados e contradições. Warley Nunes, educador do Núcleo de Educação Popular 13 de Maio foi o assessor convidado para contribuir com este processo. A sua metodologia causou alguns estranhamentos e crises, mas foi um momento que possibilitou posicionamentos e reflexões sobre os papéis dos educadores/as populares freirianos. O objetivo era nos aprofundarmos na formação da Consciência Crítica. Por quê discutir consciência? O “educador-provocador” nos trouxe o prefácio de Marx, “Contribuição à Crítica da Economia Política”. Nos fez ler coletivamente frase por frase, palavra por palavra, sempre pedindo para pararmos e compreendermos o que estava escrito para depois prosseguirmos. A formação proporcionou grande debate, contradições, desconstruções e construções. Problemas com o governo atual puderam ser explanados, o “pé dentro e o pé fora” da Recid entraram em constante crise. Vivemos um governo assistencialista, que utiliza ferramentas ideológicas para fortalecer o capitalismo brasileiro!? Cadê o espírito revolucionário da esquerda que colocamos no poder? Ao invés de nacionalizarmos os bens de produção, estamos nacionalizando os bens de consumo. Como avançarmos para a construção do PPB?

   Muitas críticas e denúncias ao modelo neo desenvolvimentista foram desabafadas. Chegamos ao ponto de debatermos a questão de ter ou não ter recursos públicos para atuarmos com a educação popular no processo de consciência e de transformação social, diante desta realidade do governo brasileiro. Mas isto ficou tranquilo e bem resolvido. O recurso é nosso e enquanto ele não ferir nossa autonomia, continuaremos com ele.

   Mas, as disputas marxistas e pós-modernas demonstram uma conjuntura de pólos antagônicos, além de termos o Estado como nosso inimigo, as disputas ideológicas só reforçam que não existe unidade na luta de classes. E isto só vem a fortalecer o Capitalismo. Pudemos nos aprofundar um pouco nas características do movimento dialético da matéria. O que é a lógica formal, pensamento linear, maniqueísta, seguindo a ordem na qual fomos conduzidos a viver, o senso comum. E o que é a lógica dialética, na qual buscamos a essência do movimento para compreender os fenômenos sociais. Consciência não é algo que adquirimos e sim um processo. Existem ferramentas ideológicas que contribuem para a formação da consciência alienada. E em contraponto o processo da educação popular é ferramenta para superarmos com a alienação. Mas ainda é preciso aprofundarmos o nosso papel enquanto educadores/as populares e melhor praticá-lo.

   As místicas durante o encontro foram bastante significativas, trazendo realidades das lutas as quais estamos atuando. São Paulo e Rio de Janeiro puderam em suas místicas denúnciar a realidade de desocupação, higienização,  de transporte público que sofrem as populações das periferias. A realidade e as estratégias políticas das moradias ofericidas pelo programa sociais e anúnciou os movimentos de ocupação urbana. Espírito Santo e Minas Gerais  trouxeram um pouco da história e realidade indígena, o conhecimento de formas, gestos, dança e música, e o seu das populações tradicionais na luta contra o capitalismo.

   Por fim, tivemos um momento de partilha do trabalho de mestrado da educadora de Minas Gerais Suzana Coutinho. Nos últimos tempos, ela vem se dedicando a estudar, a partir de sua vivência, a Rede de Educação Cidadã, os desafios da educação popular e a organização em rede. Fizemos uma leitura, por estado, de um trecho de sua tese de mestrado, onde dialogamos  sobre a importância deste trabalho para olharmos, refletirmos e avaliarmos a nossa prática. A comunicação e a confiança são ferramentas fundamentais para esta vivência em rede. Ficamos a refletir como avançar com relação à sustentabilidade, pois é ela que nos mantém em rede!? Somos rede ou estamos em rede!? Dialogamos também sobre todo o princípio de horizontalidade que tanto pregamos, realmente vivemos sob esta lógica ou não!?

O Encontro terminou com o almoço de domingo. Por sinal, a comida mineira é boa mesmo!! Então, pudemos retornar aos nossos Estados cheios de tarefas, reflexões e com a vontade de melhor nos articularmos.

    Um pouco da história e realidade indígena, o conhecimento de formas, gestos , dança, música, fala e olhar.

 

    As místicas foram bastante significativas trazendo a realidade das lutas as quais estamos inseridos.

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