Há 10 anos Rede de Educação Cidadã

Neste artigo, Marcel Farah contextualiza os 10 anos da RECID, como num olhar de pássaro percorre a trajetória da Rede de Educação Cidadã, como ela vem se construindo na conjuntura política e os desafios que nos levam à II CONAE, um espaço fértil para brotar a semente da Política Nacional de Educação Popular.

No primeiro ano do primeiro governo Lula, 2003, foi articulada uma rede de entidades, movimentos e pessoas chamada Rede de Educação Cidadã. Iniciativa do governo federal para dar resposta à demanda da participação popular nos rumos do país e enfrentar nosso maior problema social, a desigualdade.

Conhecida como RECID foi criada sob a liderança de Frei Beto a partir do Gabinete Pessoal da Presidência como parte do programa Fome Zero. Sua missão: promover práticas de educação popular, garantindo a democracia direta na gestão do Programa, e contribuir para a retomada de um projeto popular de nação desde a base. Além da “fome de pão” as atividades de educação cidadã visavam saciar a “fome de beleza”, em outras palavras, de poder.

Muito tempo passou. Dez anos. Hoje a RECID tem outro formato e outro foco. Preserva a missão inicial de fazer “trabalho de base” junto com diversos grupos, que são uma amostra das classes subalternas brasileiras. Seu principal desafio continua sendo trabalhar para aumentar o nível de consciência do povo brasileiro, com isso incentivar a participação popular, e contribuir para radicalizar a democracia. Contudo, seu vínculo com o Fome Zero e com o Bolsa Família não é mais o foco.

A natureza desta articulação é mista, parte Sociedade Civil, parte Estado. Se hoje a Rede é constituída por uma gama enorme de atores da Sociedade Civil, o é também por uma equipe do Governo Federal – o Departamento de Educação Popular e Mobilização Cidadã da Secretaria Geral da Presidência da República – e suportada por um convênio junto à área de Educação em Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Costumamos dizer que a Rede tem um “pé-dentro” e um “pé-fora”.

Os dez anos da RECID coincidem com os dez anos de um Governo Federal originado principalmente da luta contra a ditadura e da efervescência dos anos 1980. Uma das principais lutas que deram origem a este governo é o trabalho de “conscientização” gerado e gerador da estratégia democrático popular. A estratégia de disputa de hegemonia articulando comunicação, educação e cultura em uma ação integrada de construção de novos valores e relações sociais, foi a outra face da crítica ao modelo econômico e político. A construção do poder popular, além de um regime democrático, representa a reconstrução de nossa sociabilidade com base na justiça e na solidariedade.

Mesmo com as melhorias recentes das condições de vida da população, o Governo Federal ainda tem muito o que construir para mudar o Brasil. Se o “fim da miséria é só o começo” a hora é de se intensificar o legado de dez anos de mais participação social, mais diálogo com a sociedade e da construção de um Estado educador e educando, que fomente a organização popular e a participação política, que fortaleça um projeto autônomo de sociedade e um modelo democrático e popular de desenvolvimento.

Neste ano de 2013 começa a II Conferência Nacional de Educação (CONAE 2013/2014), acontece 53º Congresso da Une, momentos importantes para debater qual educação queremos, e qual o papel da mesma em um projeto democrático popular. A RECID quer recolocar a educação popular, emancipatória, que fomenta a mobilização popular em torno de um projeto de sociedade, que abre a Escola e a Universidade para as demandas populares e reconheça que educação é muito mais do que Escola novamente como prioridade. Educação que se pratique com a organização popular, com movimentos sociais, sindicais etc.

Retomando estas ideias a RECID promoverá, em articulação com a CONAE, encontros estaduais para debater a proposta de uma Política Nacional de Educação Popular. Serão 27, um em cada estado brasileiro, oportunidade única de ampliar o debate sobre a educação para diversos seguimentos sociais e fortalecer a construção de um futuro em que o fim da miséria seja realmente só o começo.

É um processo imenso, envolve quase 100 mil participantes em mais de 2 mil oficinas de base por ano. Contudo, ainda muito pequeno para o tamanho dos nosso país, insuficiente para alterar a correlação de forças e aquém dos nossos sonhos.

O grande desafio desta rede continua sendo o de tornar-se um espaço de referência para reconstrução dos referenciais políticos da esquerda pela base e fortalecer um projeto democrático popular de governo e de país. Algo que torna-se a cada dia mais necessário para que possamos avançar e poder dizer com firmeza que o fim da miséria é realmente só o começo.

Brasília, em 21 de março de 2013

Marcel Franco Araújo Farah

Integrante do Coletivo Nacional da Rede de Educação Cidadã

Um comentário em “Há 10 anos Rede de Educação Cidadã

  1. A gente ver o que ver do lugar aonde estar, com os olhos e com os interesses que tem. Isto me parece dado. Tudo isto é legítimo, mas, exatamente por ser legítimo, é passivo de crítica. Francaamente, não consegui ver nenhuma contextualização neste texto. O li assim que o vi, motivado pelo resumo, mas me senti enganado. Qual é o pé que está dentro? Qual é o pé que está fora? Fora de que? Dentro de que? Se o foco da RECID agora é construir um Estado “educador educando” ela não apenas mudou de foco, mas o perdeu. A realidade concreta, como ponto de partida irrenunciável á qualquer processo respeitoso das autonomias, das instância políticas, e que se diga libertador, deve ser vista como ela realmente é, e não como nós gostaríamos que ela fosse, se não pode ser ilonionismo, alienação e só pode nos levar ao faz de conta. Este, por sua vez, sempre interessa a alguém. Eu gostaria de saber, por exemplo, se existe algum Estado aonde a RECID se mantenha pelo menos com a articulção e a inserção que ela tinha em 2005/2006. A precarização do trabalho da RECID, sobretudo, aquele pé descalço que está cada vez mais fora das discussões, proposições e decisões, só tem aumentado. Assim como a construção e a vivência de processos. O que realmente pensa quem vive a vida como ela é e não tem a passagem para ir ás reuniões? A miséria social é o flagelo a ser superado e o Brasil, graças aos dez anos do PT no governo, caminha a passos firmes para a sua superação. Porém, a maior miséria, a mãe de todas as misérias, inclusive da miséria social, é a falta de senso crítico, de grandeza de alma e de criatividade. A democracia se radicaliza é com a “Justa Raiva”, como energia, como ato de amor e da indignação, como método, com postura coerente e não se consegue com propaganda enganosa, nem com anestésico. Quando a liderança não aceita morrer como dominador, analgésico, para renascer como como libertador, solidário com os debaixo, utiliza-se o tempo e as oportunidade de avançar na luta, para justificar fracasso, perdas e danos e defender posições conquistadas invés de avançar. O refferencial ideológico deixa de ser o “Para onde vamos” e passa a ser o “Aonde chegamos”. João Santiago. Teólogo Poeta e Militante.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

7 + 9 =