Quatro anos de governo Lula

   Como todo governo, o governo Lula tem limites, fragilidades. Mas quando apostou e investiu na formação da cidadania, não teve medo da mobilização social, quando não teve medo do povo, com certeza plantou para o futuro de um Brasil mais justo e soberano.

    Quando fui ‘convocado’ por Frei Betto, Assessor Especial do presidente Lula, em janeiro de 2003 para integrar uma equipe de mobilização social e educação cidadã a partir do Programa Fome Zero, não pude recusar, embora não tivesse nenhuma perspectiva anterior de ir para o governo federal. Não me arrependo de ter aceito. Estes quase 4 anos de governo me fizeram viajar pelo Brasil, aprendi muito, conheci este país-continente e seu povo generoso, e espero ter contribuído para a melhora de vida do povo brasileiro, especialmente os mais pobres entre os pobres.
    A idéia de Frei Betto era, aproveitando o Programa Fome Zero, ir além do que os governos em geral fazem. Não era questão apenas de garantir 3 refeições por dia ao todos/as os/as brasileiros/as, missão assumida e praticamente cumprida pelo presidente, mas ir além, ‘saciando também a sede de beleza’, de dignidade, de cidadania.
    Criou-se o que se chamou de TALHER – Rede de Educação Cidadã, hoje existente e consolidada em todo Brasil, e o projeto Escolas-Irmãs, numa mobilização estimulada pelo governo, coisa inédita, e que envolve pessoas e organizações da sociedade como os movimentos sociais, as pastorais populares, escolas e ONGs.
    Vivemos num país com pouca experiência de participação popular. Os governos, regra geral, abrem pouco espaço para o povo. Vêem-no mais como adversário ou inimigo. Os Conselhos, as Conferências como as de saúde, de educação, de segurança alimentar muitas vezes foram arrancadas a fórceps pela própria mobilização da sociedade, obrigando os governos a concordar ou tolerar a organização e a participação social.
 No governo Lula foi diferente. Realizaram-se 38 Conferências sobre os mais diferentes temas com apoio, estímulo e recursos do governo, a Rede TALHER integrou milhares de pessoas e educadores, o Escolas-Irmãs mobilizou centenas de escolas, alunos e professores. As populações pobres do Brasil, os que recebem o Bolsa Família, os que são beneficiados pelo Programa de Aquisição de Alimentos ou pelo programa das cisternas no semi-árido, foram convidadas a se movimentar em encontros, em formação na construção da cidadania, dos direitos humanos, da educação alimentar, da geração de trabalho e renda.
 Esta é uma grande diferença e avanço do governo Lula, na democratização do Estado e da sociedade brasileira.  Os frutos de um processo desses não necessariamente são visíveis a curto prazo. Na base popular, a possibilidade de participação, de ter acesso à informação, de poder dizer o nome, de ter acesso à palavra, de ter vez e voz, de poder se organizar autonomamente, de se auto-sustentar são forças e sentidos que transcendem o imediato e o cotidiano de dificuldades, de busca de sobrevivência.
 Constrói-se a cidadania, constroem-se práticas democráticas, valores que vão além da competição e do individualismo reinantes. Essa construção é duradoura, permanece no tempo. É algo como a formação que cada um de nós recebeu na família, na escola, na comunidade eclesial, e que nos acompanha a vida toda.
 Como todo governo, o governo Lula tem limites, fragilidades. Mas quando apostou e investiu na formação da cidadania, não teve medo da mobilização social, quando não teve medo do povo, com certeza plantou para o futuro de um Brasil mais justo e soberano.

Selvino Heck

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