Os países centro-americanos se somam às mobilizações da 8ª Jornada do Grito dos Excluídos e Excluídas, realizada todos os anos no dia 12 de outubro. Para a organização do Grito Meso-Americano em cada país, os eixos da convocatória confirmam a tenacidade e a clara orientação política anti-neoliberal dos movimentos sociais na região.
É importante assinalar que, neste ano de 2006, tem sido muito positivo porque muitas destas ações foram sendo coordenadas ao longo do ano. Em todos os países, distintas organizações que assumiram sua participação no Grito dos Excluídos também assumiram o desafio de organizar os atos, marchas, mesas redondas, atos culturais, entre outros, que marcam a participação centro-americana na Jornada.
As organizações populares panamenhas se unem contra a ampliação do Canal do Panamá, considerado um projeto concebido em benefício dos grandes capitais transnacionais. A ampliação do Canal tem suscitado uma forte oposição entre as organizações populares, que advertem sobre os perigos de tal projeto para o país em seu conjunto e para as populações indígenas e camponesas em particular.
Neste contexto, no próximo domingo, 22 de outubro, será realizado o Referendo sobre a Ampliação do Canal, processo no qual o governo tem investido milhões de dólares para manipular a opinião pública. Por isso, organizações populares de todo o país, entre elas a Coordenadoria Camponesa de Luta contra as Represas, a Frente Unida em Defesa do Ecossistema e a Pastoral Social Cáritas Panamá assumiram a tarefa, ao longo de todo o ano, de informar a população sobre os prejuízos que tal projeto acarreta.
Entre os aspectos assinalados está o deslocamento de milhares de famílias camponesas por causa da criação de novas represas artificiais para alimentar o Canal; o agravamento dos problemas de acesso à água potável, já que milhões de litros por segundo serão destinados ao Canal e, portanto, quem sofrerá com isto é a população panamenha; bem como o fato de que o Canal não tem contribuído para o desenvolvimento social e econômico do país, já que o novo projeto continuará beneficiando os grandes capitais e seus sócios apenas.
Na Costa Rica, acontecerão as Jornadas de Ação contra o TLC (Tratado de Livre Comércio) com os Estados Unidos, entre os dias 23 e 24 de outubro próximos. Desde o ano de 2003, neste pequeno país, a oposição ao Tratado vem crescendo, o que se reflete na última pesquisa da Universidade da Costa Rica, em que 70% das pessoas acreditam que os Estados Unidos serão o grande ganhador e mais de 50% se opõem ao Tratado.
Convocadas pela Coordenadoria Nacional de Luta contra o TLC, esta jornada terá a participação de centenas de organizações populares, em distintos pontos do país. Se espera que haja ações nas províncias de Guanacaste, Cartago, Alajuela, Limón e San José, bem como em zonas do interior do país. As ações convocadas incluem greve, marchas, bloqueios, entre outras.
De acordo com as ações do Governo de Oscar Arias Sánchez, se espera que durante esta jornada poderá observar-se uma mobilização policial de grandes dimensões, e se teme pelas ações repressivas violentas que o governo possa ordenar.
Cansados dos apagões, do mau serviço e das altas tarifas impostas pela transnacional Unión Fenosa ao povo nicaragüense, há vários meses, o Movimento Social Nicaragüense e centenas de organizações populares de tal país vem demandando a renacionalização da energia elétrica, bem como a saída imediata da dita transnacional, como já aconteceu na República Dominicana. Também há a luta contra a privatização da água, num país onde, apesar da abundância de tal recurso, a população tem sérios problemas de acesso. Este também é um dos eixos mobilizadores mais fortes no momento atual.
Estas e outras demandas têm dado corpo à próxima jornada de luta popular, a ser realizada no dia 26 de outubro próximo, com uma grande marcha nacional coordenada por distintos setores do movimento popular. Esta marcha chegará à Assembléia Nacional, demandando ao Governo da Nicarágua romper com as 28 condicionalidades impostas ao povo nicaragüense pelo Fundo Monetário Internacional, entre as quais se destacam a privatização dos serviços públicos.
O Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) informou sobre a realização de dois plantões, um em frente à sede do BCIE e outro em frente à Embaixada de El Salvador, no marco da Grande Jornada de Resistência Indígena, Negra e Popular contra os 514 años de colonialismo que vive esse país e toda a América Latina. Em El Salvador, por sua parte, também se desenvolvem ações de luta popular.
O Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE) tem manifestado sua disposição de financiar o projeto da Represa Hidrelétrica El Tigre. Se for concretizado, o projeto da Represa Hidrelétrica El Tigre inundaria comunidades indígenas dos municípios de Piraera, La Virtud, Virginia e Mapulaca, no Departamento de Lempira; e de San Antonio e Santa Lucía, no Departamento de Intibucá. Além disso, destruiria tecidos sociais, habitat de espécies animais e plantas, significa a perda de patrimônios econômicos, privatização da energia, dos ríos e da água.
Por sua parte, o plantão em frente à embaixada de El Salvador foi realizado em vista de que o governo desse país, juntamento com o governo hondurenho, impulsionam a construção da Represa Hidrelétrica El Tigre, com os efeitos já indicados.
Por sua parte, El Salvador também viveu, no último dia 12 de outubro, uma jornada de ação, realizando-se uma caminhada (marcha) desde o Departamento de San Miguel até a Capital da República, culminando na Casa Presidencial. A marcha foi organizada pelo Movimiento Popular de Resistência-12 de outubro (MPR-12), e contou com o apoio de distintas organizações, entre elas o Centro de Estudos Frei Bartolomé de las Casas e a Congregação Pasionista. A caminhada teve como objetivo expressar o repúdio popular ante a construção da Represa Hidrelétrica El Tigre, bem como o rechaço à lei de mineração a céu aberto.
Convocada por distintas organizações indígenas e populares, entre elas a Frente Indígena San Martineco e a Coordenadoria de Organizações Maya Kaqchikeles para o Desenvolvimento Eqüitativo e Sustentável (COMKADES), uma marcha realizada no último dia 12 de outubro foi seriamente reprimida por parte das autoridades do Municipio de San Martín Jilotepeque, na Guatemala.
Tudo isto conseguiu reduzir o número de participantes da marcha, mas, como assinala um comunicado emitido pelas organizações, "com muita força e vontade, nos apresentamos numa concentração publica em frente ao palácio municipal e apresentamos oficialmente ao prefeito e sua corporação nosso pleito de petições, além do que, no dia 13 de outubro, apresentamos cópia do pleito de petições ao Governo Central. Foi recebido pelo vice-presidente Eduardo Stein Barillas. Solicitamos uma audiência, para o dia 07 de novembro deste ano, para fortalecer nossas demandas sociais. Reiteramos que estamos pendentes do que acontece na Guatemala e, especialmente, em San Martín, onde os bastiões da injustiça estão presentes e claramente fica demonstrada a repressão e marginalização na qual se vive. Não existe liberdade de expressão do pensamento e manifestação pública e pacífica nestas terras, por isso, para o dia 26 de outubro, estamos promovendo uma nova marcha para reafirmar nossa luta".