Leonardo Boff publicou, entre tantas obras, "SABER CUIDAR, Ética do humano Compaixão pela Terra", onde diz: Tudo o que vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra. Uma antiga fábula diz que a essência do ser humano reside no cuidado.
Leonardo Boff publicou, entre tantas obras, SABER CUIDAR. Ética do humano Compaixão pela Terra (Vozes, 1999), onde diz: Tudo o que vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra. Uma antiga fábula diz que a essência do ser humano reside no cuidado. O cuidado é mais fundamental do que a razão e a vontade e se concretiza cuidado com a Terra, com a sociedade sustentável, com o corpo, com o espírito, com a grande travessia da morte. A ótica do cuidado funda uma nova ética compreensível a todos e capaz de inspirar valores e atitudes fundamentais para a fase planetária da humanidade.
A entrega da Ordem do Mérito Cultural, em cerimônia no Palácio do Planalto, dia 8 de novembro, transcorria normalmente. Salão lotado, o Ministro Gilberto Gil disse, em discurso emocionado: O que temos feito nesses últimos anos foi deixar a terra preparada para as novas semeaduras que todo ano encontram sua estação. Criamos as condições para fazer com que cada semente lançada possa encontrar seu terreno e germinar. Também aparamos galhos, podamos árvores que se perdiam por abandono, injetando novo vigor aos troncos e dando espaço às velhas e boas raízes que há muito se fincaram no solo. As sementes lançadas são sementes muito potentes, florescem em solos áridos, nas periferias econômicas das grandes cidades. Muita terra foi revolvida. As mudas estão preparadas, cada variedade terá, no futuro esperado, seu plantio garantido, para que todas as bocas possam saborear segundo seus apetites e paladares. Nessa nossa semeadura, se semeou toda a diversidade brasileira. Cada sítio de todo o território brasileiro, cada região e cidade, ganhou de nós a atenção merecida.
A cerimônia ia noite adentro, dezenas de pessoas foram agraciadas com a Ordem do Mérito Cultural, houve manifestações culturais do povo, um escolhido entre os homenageados fez um discurso belo, porém especialmente longo.
Chegou a vez do presidente Lula falar. Sua fala durou apenas, e excepcionalmente, sete (7) minutos. Mas foi talvez um dos discursos mais densos e emocionantes de sua vida, ainda embalado pela vitória eleitoral.
Falou o presidente: Eu não sei se alguém poderia dizer que o Ministro Gilberto Gil governa a cultura brasileira ou a gente dizer que o Lula, simplesmente, governa o país, porque a palavra governar, tal como é pensada, dificulta a gente fazer da ação do governo uma coisa mais simples, que é cuidar. Você pode ter o dinheiro do mundo, se você não tiver humildade e sensibilidade para fazer as coisas florescerem, desabrocharem como um botão de rosa, o dinheiro não vai valer nada. O dinheiro, ao invés de produzir cultura, pode produzir um monstrengo, como nós já cansamos de ver em outros momentos históricos deste país. Eu descobri que nós ganhamos as eleições porque nós cuidamos do povo deste país. E quando eu digo a palavra cuidar, é que você cuida daqueles que, muitas vezes, os que governam não sabem que eles existem ou, se sabem, sabem por um número estatístico, não conhecem as suas caras, nunca apertaram a mão deles, nunca visitaram a casa de um deles. Então podem até dizer: eu conheço, mas não conhecem. Porque saber o que é uma dor de barriga não é o mesmo que sentir a dor de barriga. Então cuidar do país é fazer um pouco do que nós vimos hoje aqui: mostrar para o Brasil inteiro que nós temos diferenças extraordinárias no mundo cultural e que isso não é um mal, isso é um bem para o país, desde que a gente possa mostrar para todo mundo que elas existem, e que a gente permita que o povo goste da que ele entender que seja melhor, do ponto de vista dele, e não apenas da que ele pode ver.
O cuidado, diz Boff, é aquela condição prévia que permite o eclodir da inteligência e da amorosidade. Cuidado é gesto amoroso para com a realidade, gesto que protege e traz serenidade e paz. Sem cuidado nada que é vivo sobrevive.
Por isso, governar é cuidar, especialmente dos pobres, dos que mais sofrem, dos humilhados e ofendidos. O presidente Lula assim terminou sua oração: Você, Ministro Gilberto Gil, poderia ser consagrado com seus companheiros de Ministério como o Ministro que veio a público dizer: presidente Lula, nós não estamos inventando nada, as coisas já estavam aí, era preciso apenas tirar o carrapicho, capinar, como diz o bom lavrador brasileiro, e deixar a boa muda florescer.
Governar é cuidar todos os dias para que a boa muda possa florescer e encantar.
Selvino Heck
Assessor Especial do Presidente da República