Um novo tempo!

Quatro anos de caminhada, de troca de experiências, são muitos os passos dados. Uns para frente, outros para trás, outros no mesmo lugar, mas são passos dados coletivamente. Muitos passos dados para trás revelam nosso maior valor. A solidariedade. Foram eles que nos permitiram chegar juntos onde estamos

O sétimo encontro nacional do talher, Rede de Educação Cidadã, aconteceu de 17 a 21 de Novembro, na chácara do CIMI em Luziânia-GO. Teve como tema, “pensar a Rede, pensar o Brasil“ e abriu as portas para um novo tempo. Com três participantes de cada Estado teve ainda a assessoria do ministro Luiz Dulci, do sindicalista Milton Viário e do professor Ricardo Spíndola na assessoria metodológica.
Quatro anos de caminhada, de troca de experiências, são muitos os passos dados. Uns para frente, outros para trás, outros no mesmo lugar, mas são passos dados coletivamente. Muitos passos dados para trás revelam nosso maior valor. A solidariedade. Foram eles que nos permitiram chegar juntos onde estamos. Muitos passos foram dados alternados, num ir e vir, fazendo o mesmo percurso, como uma rede que balança, mas não cansa. Não parece cansativo e não há monotonia. Como um pintor que passa o pincel várias vezes no mesmo lugar, para dar textura e nitidez à pintura, nossos pés marcaram nosso caminho. Selamos com a persistência do fazer de novo, os momentos e trechos de maiores desafios.
As três crianças que nasceram nesse quarto ano, nessa caminhada, quase no meio desse caminho, marcam a pluralidade e a vitalidade dessa rede e desse país. A diversidade que existe. Simbolizam a esperança, o combustível fantástico que move nosso povo. A proteção, o cuidado e que o futuro já começou. Esse futuro chama-se Mariana em São Paulo, Francisco na Paraíba e Josué no Rio Grande do Sul. Muitos outros sinais nasceram em outros cantos do Brasil e significam a missão que temos. Regar com nosso suor o caminho e os passos, o futuro que elas representam. Dizem-nos com suas existências, que, o futuro com o qual sonhamos, já chegou. Que grande parte do que fazemos hoje, assim como o que muitos fizeram ontem, é o futuro que brota. Frágil, indefeso, encantador e pede apenas cuidado.
Quatro anos de caminhada, três crianças, no meio do caminho, sete encontros. A força trinitária criou, em sete dias, todo o universo, os seus quatro pontos cardeais, na sua totalidade, com tudo o que nele existe e descansou. Fez tudo isso em sete dias e deu ao descanso o mesmo valor do trabalho. O sétimo encontro nacional pode e deve significar o fim de um ciclo, de uma etapa se quiser. O fim aqui é prenúncio de um novo começo. De um re-começo. Nesse re-começo queremos dizer com Ivan Lins numa de suas lindas canções: “começar de novo e contar comigo. Vai valer a pena, ter me conhecido, (…) ter amanhecido, (…) ter me rebelado, ter me debatido, ter virado a mesa ter sobrevivido…” esse re-começo terá muito olho no olho, muita escuta, entre os que caminham nessa estrada, ou desejam caminhar.
Nesse novo tempo, apesar dos perigos, como diz também Ivan Lins, noutra linda canção, nós não vamos nos acomodar. Não vamos nos contentar com uma vida que não seja plena e, por isso mesmo, para todas (os). Vamos agradecer e celebrar por ter sobrevivido, cada etapa, cada fase, cada desafio, vencido ou enfrentado. Nesse novo tempo, nossa prática falará mais que nossas palavras. Assim como os pelourinhos, as sinetas serão peças de museu para visitação, por que exercitaremos a disciplina voluntária. Quem chegar ao nosso local de encontro, nos intervalos, ou no seu término, saberá, apenas olhando-o, que ali esteve reunido um grupo de Educadoras (es) Freireanos. Nesse novo tempo, falar será um ato revolucionário, mas escutar será um princípio pedagógico irrenunciável! 
O sétimo encontro nos colocou frente a frente com nossos avanços, conquistas, desafios, potencialidades e fragilidades. Principalmente nos mostrou a sutil e significativa diferença entre um mais um e dois. Como rede nos fez ver e avaliar a relação de cooperação entre o todo e a parte. Entre a parte e o todo. Uma rede não balança parcialmente, mas toda. Mas também não balança igualmente, mas em sintonia.  O ponto que menos mexe nela é o que emite o som do rangido no contato entre o punho e o apoio.
Nossa rede tem a pretensão proporcional aos nossos sonhos. Quer representar, ou mesmo ser, uma rede brasileira. Com todos os sotaques, todas as cores, todas as etnias, todas as expressões culturais, religiosas, de gênero e geração. Assim, hoje podemos dizer, com todos os riscos e desafios que isso significa que nessa rede tem todas as espécies de peixes. É verdade também que nossas águas ainda enfrentam muitas turbulências. Às vezes apenas das contradições inerentes à relação com o Estado. Outras vezes das fragmentações ideológicas e metodológicas, fontes de nossa formação ainda muito bancária.          
Por tudo isso, o estilo de liderança autoritária ainda é muito freqüente e faz parte de nosso processo histórico. Na ansiedade e na pressa histórica às vezes chegamos sós onde idealizamos chegar juntos, onde dizemos ser o lugar sonhado e não respeitamos o tempo do povo. Essa atitude é fruto de nossa concepção tantas vezes equivocada, do pensamento Freireano. Em nome da problematização, fazemos prevalecer nosso pensamento, enfiamos goela abaixo nossa verdade e nos intitulamos porta vozes dos grupos, quando, na verdade, estamos lhes roubando a palavra. Aqui também há avanços. Já percebemos e admitimos essa contradição.
Chegamos ao sétimo encontro da rede com todo esse acúmulo. Não é ainda suficiente para dar conta de nossa missão histórica e intransferível de transformar o Brasil. De fazer valer as vidas doadas ou as vezes roubadas, de seus filhos e mártires, nossos irmãos que sonharam antes de nós. Mas não é pouco. Quem olhar o Brasil e não nos ver, não olhou direito. Alguns significados pedem para ser interpretados: avanços e retrocessos, passos para frente ou para trás, mas passos dados conjuntamente. Seja a retomada do caminho Freireano; da vivência da escuta dos nunca ouvidos, buscando suas falas significativas; a prática da avaliação permanente dos processos e a auto-avaliação; o reconhecimento e a descoberta da importância do registro das experiências e a sua sistematização coletiva; descobrir-se capaz de fazê-lo; o estudo coletivo, nos muitos grupos que, nos Estados, formam círculos de estudo e constroem equipes de metodologia, buscam a práxis refletindo, repensando a própria prática; o estudo e o conhecimento da realidade, inclusive na relação Estado sociedade; a busca de um projeto para o Brasil ganhou uma bússola, com o estudo do processo de formação do povo e do Estado brasileiros. Através de seus principais intelectuais, buscamos, sociológica, política, psicológica e antropologicamente, conhecer o passado para viver autenticamente o presente e, assim, sonharmos com o futuro. Mais que isso ser sujeitos na sua construção.
Continuando com Ivan Lins diremos: “desesperar, jamais! Aprendemos muito nesses anos, afinal de contas, não tem cabimento, entregar o jogo no primeiro tempo, (…) cutucou por baixo, o de cima cai. Cutucou com jeito, não levanta mais.” Diz ele mais adiante. Relembrando o poeta que nos acompanha nesses quatro anos e que deu o título de nossa sistematização, “vamos Lá fazer o que será.” Que venha o segundo tempo. Que venha futuro. Parafraseando o que diz também um dito popular, “vamos para frente que o Brasil quer ser gente”. O ano de 2007 promete muitas emoções. Promete o início de um novo tempo.
 
João Santiago, 45 anos é poeta e militante e educador da equipe do talher nacional. É autor do livro, “Militância e Poesia” pela Editora e Gráfi
ca Popular à venda no CEFÚRIA. Está preparando para Fevereiro de 2007 o lançamento, pela mesma editora, o segundo livro, “Vida e Poesia.” É, pelo jeito 2007 realmente promete! 

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