Uma das novidades da pesquisa do Programa Rotas de Fuga, realizada pelo Observatório de Favelas entre 2004 e 2006, é a experiência anterior dos jovens entrevistados com o trabalho. Apesar do baixo nível de escolaridade, 140 dos 230 entrevistados, ou seja, 60,8% exerceram alguma atividade remunerada fora do tráfico de drogas.
Uma das novidades da pesquisa do Programa Rotas de Fuga, realizada pelo Observatório de Favelas entre 2004 e 2006, é a experiência anterior dos jovens entrevistados com o trabalho. Apesar do baixo nível de escolaridade, 140 dos 230 entrevistados, ou seja, 60,8% exerceram alguma atividade remunerada fora do tráfico de drogas. É preciso, no entanto, evitar uma leitura simplista e equivocada deste dado, na qual venha reforçar o discurso da responsabilização exclusiva do adolescente pelo ingresso nesta atividade ilícita. Reduzir esta opção a uma simples escolha pessoal é abster-se de um olhar mais atento para alguns fatores que devem ser considerados.
Relação com o trabalho
Faz-se necessário avaliar, então, as razões pelas quais tais experiências anteriores de trabalho não se sustentaram ou não foram suficientemente atrativas como alternativas à rede ilícita. Quando analisamos as experiências profissionais que os adolescentes e jovens tiveram fora da rede ilícita, verificamos que o acesso ao trabalho se deu principalmente no campo informal e na economia submergida, em atividades com vínculos precários e baixo nível de rendimento, tais como: ajudante de pedreiro, entregador, vendedor ambulante, cobrador de kombi, office-boy, etc. Tais fatores dificultam a fixação dos adolescentes e jovens no mercado do trabalho. Estes aspectos provocam uma espécie de nomadismo caracterizado por uma grande diversidade e alternância de atividades, que raramente superam o sentido de estratégias de sobrevivência.
Além do dado anterior, quando analisamos os tipos de documentos que os entrevistados possuem, verificamos que mais da metade dos jovens dispõe de uma Carteira de Trabalho, o que revela expectativas de inserção no mercado de trabalho formal. Se considerarmos, ainda, que 65,3% dos entrevistados ingressaram no tráfico de drogas até os 15 anos de idade, é possível que grande parte deles tenham dado entrada no documento quando já estavam inseridos na atividade ilícita.
Fábio Rodrigues, pesquisador do Observatório de Favelas