Entre Portas e Janelas

Joana D´Arc Aguiar / Feminista e educadora popular do RECID

A luta pela cidadania das mulheres é longa e caminha paralela à luta pela humanização dos povos. Direito de votar, estudar, trabalhar fora de casa,  abrir sua própria empresa, ter crédito em seu próprio nome, ser chefe de família, de ocupar cargos públicos ter a terra da Reforma Agrária em seu próprio nome, de exercer profissões tidas como masculinas, de fazer ciência e exercer a sua arte, tudo isso foi fruto de muita luta e determinação.

“ Maria Joaquina era a mulher mais bonita do vilarejo. Antonio, o marido,morria de ciúmes. Todos os dias o ritual se repetia: ela mesma trazia algo de comer e uma vasilha com água. Ele a prendia pelos cabelos ao baú de couro  de onde só saía no fim da tarde quando ele retornava da roça”(História  ocorrida em Pedro Velho, R/N  por volta de 1930 e narrada por Maria do Carmo Soares)

A luta pela cidadania das mulheres é longa e caminha paralela à luta pela humanização dos povos.
Direito de votar, estudar, trabalhar fora de casa,  abrir sua própria empresa, ter crédito em seu próprio nome, ser chefe de família, de ocupar cargos públicos ter a terra da Reforma Agrária em seu próprio nome, de exercer profissões tidas como masculinas, de fazer ciência e exercer a sua arte, tudo isso foi fruto de muita luta e determinação. Para isso, muitas mulheres nos antecederam, a quem muito devemos e  de quem nunca devemos nos esquecer.
 
  No século XVII, durante a Revolução Francesa uma mulher viu que o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” não se aplicava às mulheres. Protestou e escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher Cidadã. Condenada à morte na guilhotina, a sentença a acusava de “ter querido ser homem de Estado e ter esquecido as virtudes próprias do seu sexo”. Seu nome: Olimpe de Gouges  e se transformou numa referência histórica para as mulheres em todo o mundo.

Clara Zetkin propôs, em 1910, na Segunda Conferência Internacional da Mulher Socialista , em Copenhague, que o dia 8 de março se tornasse o Dia Internacional da Mulher, numa homenagem às 129 operárias assassinadas pela polícia e pelos patrões numa indústria têxtil em Nova York , em 1857
   No Brasil, os historiadores, em sua grande maioria homens, obscureceram o papel das mulheres nas lutas pela construção de um país livre, independente, não escravista. A negra Tereza liderou um grupo de 79 negros no Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso, e o levante do Quilombo do Urubu, em Salvador foi liderado pela escrava Zeferina. Francisca Amélia de Assis e Ana Benvinda Ribeiro, ambas da cidade de Santos, a escritora Marisa Anália, a cearense Maria Tomásia e a compositora Chiquinha Gonzaga foram atuantes na luta contra a escravatura. Esta última foi batalhadora pelo reconhecimento da mulher artista.

Bertha Lutz, nascida em S. Paulo, estudou na Sorbonne, na França, durante a primeira Guerra mundial e voltou para o Brasil, iniciando sua carreira profissional no Instituto Osvaldo Cruz sendo em 1918 a primeira mulher a ocupar um cargo público por concurso.
   Evidentemente, uma lista enorme de mulheres caberia aqui. Desde a luta pelo voto feminino há 70 anos, a criação das delegacias e conselhos de direitos  na década de 80  até a criação da Secretaria de Políticas Públicas para a Mulher, do governo Lula, que tem status de ministério, muitas falas, reuniões lágrimas, perdas e vitórias se sucederam.

Por isso, é injusto dizer que nada mudou na vida das mulheres.
Vale a pena estudar a história das mulheres que se rebelaram e se rebelam até hoje contra qualquer forma de injustiça social, especialmente nas relações de gênero. Reconhecer isso é assumir nossa condição de seres históricos, capazes de fazer história, mudar a  cultura e contribuir para novos valores no mundo.

Para Maria Joaquina portas e janelas se fecharam.
Para as mulheres do séc XXI muitas portas se abriram, a custa do esforço e  da luta das mulheres por sua cidadania. A Lei Maria da Penha (Lei nº 11. 340 de agosto de 2006), sancionada pelo Presidente Lula, é uma resposta e um alento às muitas marias vitimizadas pela violência doméstica.

Joana D´Arc Aguiar                                                                                                                                                 (Feminista e educadora da Rede de Educação Cidadã)

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