Empreendedorismo cultural, valorização do desenvolvimento humano e troca de saberes e experiências são as tônicas do programa que, neste ano, aumenta o investimento em ações de capacitação.
Foi lançado nesta quarta-feira, 18 de abril, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, o Viva o Vale 2007! Programa de Desenvolvimento Sociocultural do Vale do Jequitinhonha. Esta é a segunda edição do programa e agregará novos projetos incentivados à rede de desenvolvimento sociocultural do Vale do Jequitinhonha, ampliando sua capilaridade e alcançando novas comunidades beneficiadas. No total serão aplicados R$ 1,3 milhão, 45% a mais do que a verba empregada no ano passado.
Todos os projetos contemplados pelo programa incentivam o empreendedorismo cultural, valorizam o desenvolvimento humano e permitem a troca de saberes e experiências entre os envolvidos. Uma das inovações que a edição de 2007 traz é o aumento do investimento em ações de capacitação para que os efeitos do programa possam também ser disseminadores e reforçadores da ação em si. A experiência de 2006 revelou que um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento da região é a deficiência na formação e qualificação dos recursos humanos regionais.
Os projetos selecionados foram submetidos a critérios que privilegiavam aqueles que, voltados à coletividade, servissem de fonte de identificação, envolvimento e inspiração para a comunidade e a região e que trouxessem resultados fosse pelo incremento da economia local, fosse pela inclusão de atividades formativas e de capacitação ou ainda pela troca de saberes e experiências entre os empreendedores, os profissionais e os públicos. Houve também a preocupação com o desenvolvimento de modos permanentes e autônomos de perpetuar suas atividades, inclusive com a construção de redes permanentes de colaboração, já que a própria comunidade beneficiada os reconhece como importante mecanismo de seu desenvolvimento sociocultural.
Um vale entre montes de ações socioculturais
Quando uma tradição se perde sem nenhum registro, um pouco da História de todo nosso povo vai embora com ela. Foi o que ocorreu com a arte cerâmica produzida pelos índios das etnias Aranãs, Pankararus e Xacriabás que, há décadas, deixou de ser produzida. Agora, a memória imaterial da cerâmica artística, utilitária e ornamental será resgatada por meio de um trabalho de anciãos e principalmente anciãs dessas tribos, obedecendo às tradições de cada etnia. Esses homens e mulheres, detentores da sabedoria de cada tribo, serão incentivados a voltarem a produzir a arte cerâmica com a missão de repassar esses conhecimentos aos jovens. As obras confeccionadas participarão de exposições e todo o projeto será registrado em fotos e vídeo.
Ao lado do artesanato, a música é o outro grande ícone da cultura do Vale do Jequitinhonha. Um dos expoentes desta tradição, o músico Rubinho do Vale, criador da Cantoria Pedagógica, um trabalho que une arte popular e educação, com a idéia de atingir não somente alunos de escolas públicas de Minas Gerais, mas seus pais, funcionários e professores, oferecerá, aos adultos, oficinas abordando o uso didático-pedagógico da música e, às crianças, shows com canções de cinco CDs infantis que produziu.
Durante uma semana, em uma cidade diferente a cada ano, o Festivale dá a oportunidade ao público conferir as apresentações de músicos e grupos folclóricos, feiras de artesanato, noite literária, oficinas, exposições de fotografias, mostras de vídeo, entre outros. Participam também artistas, gestores do setor público e privado, agentes culturais e educadores que discutem a cultura do Vale, planejam e articulam ações culturais em rede, participam de oficinas de capacitação e debatem os destinos da produção cultural da região. Em 2007, este festival que já percorreu 18 cidades do Vale, comemora sua 25ª edição e chega, pela primeira vez, a Joaíma, no Baixo Jequitinhonha.
Em meio às ações previstas, há ainda a valorização de expressões culturais locais menos valorizadas do que o artesanato e a música do Vale. O teatro, por exemplo, tem grupos já tradicionais, como Os Ícaros do Vale que, em comemoração aos seus 10 anos de existência, trabalharão a elaboração da peça teatral Terra de Lira com pesquisas sobre o artesanato da região, seminários e oficinas que fortalecerão a formação técnica e profissionalização do elenco. O resultado será mostrado em 8 apresentações em praças públicas de Minas Gerais. O K-iau em Cena Festival Nacional de Teatro de Araçuaí já colocou, em 2006, o município no circuito dos principais festivais de teatro do país, promovendo o intercâmbio cultural e abrindo espaço para encenação de peças locais, nacionais e estrangeiras. Em sua 2ª edição, o Festival contará com espetáculos em teatros, ruas e praças da cidades, além de oficinas, palestras e apresentações musicais. O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna, de Ariano Suassuna, o decifrador de brasilidades, como já foi chamado, serve de inspiração ao Grupo Teatral Vozes. A peça será encenada em feiras e festivais, que se configuram como espaços de convivência e troca de experiências. Foi justamente nas feiras do Jequitinhonha que o Grupo Vozes surgiu há 24 anos e refinou seu modelo de atuação ao ar livre. Hoje, retorna a seu público com um trabalho profissional, sem perder suas raízes populares.
Ainda com o apoio do Viva o Vale! serão modernizadas 6 bibliotecas do Vale do Jequitinhonha, que receberão um computador, uma impressora e 500 livros criteriosamente selecionados. O Vale Mais: Instituto Sociocultural do Vale do Jequitinhonha oferecerá consultoria artística e técnica, oficinas, palestras e workshops às iniciativas e aos agentes culturais. Criado em 2002, o Vale Mais visa contribuir para o desenvolvimento sociocultural da região e a conseqüente melhoria da qualidade de vida de sua população. A expectativa é a de que os agentes culturais capacitados possam, pelas suas próprias mãos, elaborar estratégias e executar projetos socioculturais para o Vale de forma profissional, garantindo assim, a sustentabilidade e continuidade das ações.
O Programa de Desenvolvimento Sociocultural do Vale do Jequitinhonha é, pelo segundo ano, uma ação apoiada pela Avon, em atendimento à sua política de desenvolvimento sociocultural no Brasil.