No último dia 27 de setembro, o governo federal anunciou a nova presidenta da TV pública, batizada TV Brasil: Tereza Cruvinel, que assina a coluna Panorama político do jornal O Globo. A jornalista foi indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula. A decisão chama a atenção de pessoas que participam do debate sobre a implantação da TV Brasil.
Colaborou: Carlos Daniel da Costa
No último dia 27 de setembro, o governo federal anunciou a nova presidenta da TV pública, batizada TV Brasil: Tereza Cruvinel, que assina a coluna Panorama político do jornal O Globo. A jornalista foi indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula. A decisão chama a atenção de pessoas que participam do debate sobre a implantação da TV Brasil. Há quem comemore a indicação e há pessoas que vêem tal fato com reservas. A escolha da nova presidenta e do conselho curador pelo Executivo federal dará à nova emissora criada a partir da fusão da TVE, da Rádio MEC e da Radiobrás autonomia e independência?
De acordo com o professor da Universidade de Brasília (UnB), Venício de A. Lima, a indicação do conselho curador pelo governo não traz preocupações, desde que esses nomes sejam substituídos a médio e longo prazo, de forma sistemática. Se houver um modelo de gestão que garanta o controle social da TV pública, a participação da sociedade e a substituição de eventuais pessoas que estejam em cargos de gestão, essas pessoas não serão tão importantes. O mais importante é o modelo de gestão, defende Venício.
A diretora do Instituto Patrícia Galvão entidade que visa à democratização dos meios de comunicação, a promoção da cidadania plena pelas mulheres e a colaboração na construção de uma imagem que reflita o crescente reconhecimento dos direitos humanos das mulheres avalia a indicação da jornalista com expectativa. Para Jacira Melo, Tereza Cruvinel é experiente e reconhecida pelo seu posicionamento crítico como colunista de política e pela postura equilibrada. Quem é Tereza Cruvinel?
Formou-se em Jornalismo, em 1981, pela Universidade de Brasília (UnB). É mestre em Comunicação Social, com orientação para Mídia e Política, pela mesma universidade. É uma das mais respeitadas analistas políticas da imprensa brasileira. Além da coluna Panorama político, que assinava diariamente no jornal O Globo, há dez anos faz comentários políticos na GloboNews. Mais recentemente, passou a aparecer também no Programa do Jô, na TV Globo, ao lado de outras renomadas colegas. Premiada, passou ainda pelas redações da TV Brasília, do Jornal de Brasília, do Correio Braziliense e do Jornal do Brasil, tendo participado como repórter de importantes coberturas, como os movimentos à campanha pelas Diretas Já e a eleição de Tancredo Neves.
Jacira lembra o passado da colunista: Ela tem um passado militante de esquerda. Tem uma história de compromisso com as lutas sociais e históricas do Brasil. Tenho a expectativa de que terá postura imparcial e plural na construção da TV pública brasileira. É um passo importante para a tão sonhada redemocratização dos meios de comunicação no Brasil. É uma prova de como as mulheres estão chegando a postos de poder.
Há vozes mais reticentes com relação à indicação, demonstrando preocupação de que a nova emissora não respeite as propostas que impulsionaram sua criação e não tenha liberdade e independência para controlar seu conteúdo.
Tereza é uma jornalista com anos de experiência na grande imprensa, e, nesse sentido, é uma boa notícia. Sinaliza a contratação de uma profissional qualificada, reflete a jornalista Carla Rodrigues, uma das criadoras da Rede de Informações do Terceiro Setor (Rits). Mas complementa: No entanto, se queremos uma TV pública independente, a presidência não pode estar subordinada a interesses políticos. É a independência da TV pública que irá diferenciá-la de uma emissora estatal.
O coordenador geral do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs), Gustavo Gindre, mostra preocupação com a postura governamental. Esperava-se que, a partir da criação do Fórum Nacional de TVs Públicas, o governo fosse dialogar com a sociedade e abrir processo que visasse democratizar a comunicação. Logo depois, passado o fórum, acabou se fechando. Praticamente, não manteve diálogo com a sociedade, explica.
Para ele, a indicação de Tereza Cruvinel significa a busca do consentimento da Rede Globo. Ela era colunista de um jornal e, de repente, virou presidente de uma empresa de comunicação. E chama a atenção: Tereza está herdando um processo muito bonito que ocorreu no primeiro governo Lula. A Rádio MEC e a Radiobrás, mesmo com a falta de grana, foram transformadas em empresas respeitáveis. Infelizmente, temo que as pessoas à frente desse processo, tanto na TVE, na Rádio MEC como na Radiobrás, não permaneçam. Eles apostaram em outra linha, na criação de uma emissora realmente pública. Acho que há risco de retrocesso em relação ao primeiro governo Lula.
Publicado em 5/10/2007.