Nem só de análises, estratégias futuras e mobilizações é feita a Semana Mundial da Alimentação. A ocasião – 15 a 19 de outubro – também é ideal para refletir sobre os resultados já alcançados e reconhecer as ações que rendem mais benefícios.
Nesta semana, pessoas atuantes no cenário nacional da luta contra a fome destacaram as ações responsáveis por colocar mais comida na mesa de milhares de brasileiros. Entre as iniciativas mais citadas, estão o Programa Bolsa Família, a agricultura familiar, e a alimentação escolar.
Secretário nacional de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Adoniram Sanches destaca que a agricultura familiar é, dentre as iniciativas do Fome Zero, o principal objeto de financiamento e peça-chave na construção de uma política agrícola como suporte para a segurança alimentar. Hoje, todos os estoques reguladores que o País tem, armazenados na Conab, vêm da agricultura familiar, frisou.
Os números demonstram a importância que as iniciativas familiares têm para a economia nacional. Dos 4,5 milhões de estabelecimentos rurais existentes no Brasil,
4,1 milhões são familiares. Destes, 2 milhões usam recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, Pronaf, para produzir alimentos, sobretudo hortifrutigranjeiros.
Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) aponta que, nos 100 municípios que mais contrataram as linhas de crédito do Pronaf nos últimos quatro anos houve aumento da produtividade, da circulação de mercadorias, e, conseqüentemente, da arrecadação tributária. Outra conclusão do estudo é que a população rural destas cidades não tem migrado. Pessoas que antes não tinham esperança hoje têm permanecido no meio rural, gerando renda, com perspectiva de qualidade de vida diferente, comemora Sanches.
O Pronaf – considerado o principal suporte da agricultura familiar no País – concede crédito a juros baixos e, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, já disponibilizou 12 bilhões de reais para a safra de 2007/2008. São R$ 2 bilhões a mais do que o crédito rural concedido na safra passada.
Um dos frutos do êxito do crédito rural é a realização da Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária. A quarta edição do evento, realizada de 04 a 07 de outubro, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília, mobilizou 480 expositores de todas as regiões brasileiras. Para Sanches, a feira foi uma grande vitrine, que evidenciou que os agricultores familiares ofereceram produtos de alta qualidade, feitos dentro das normas sanitárias e com especial atenção à saúde humana. No imaginário da população urbana ainda prevalece a idéia das grandes agroindústrias como produtoras de alimentos. Estamos mostrando, por meio destas feiras, que existem várias cooperativas e associações de agricultores familiares que são extremamente importantes na produção de alimentos diferenciados, saudáveis e regionalizados, salientou.
Outra iniciativa ligada à agricultura que rendeu elogios foi o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), uma das estratégias do Fome Zero. Na prática, o programa compra parte da produção do agricultor familiar pelo preço de mercado e a destina a pessoas que não têm acesso a uma alimentação adequada. O Bolsa Família, responsável pela maior fatia dos projetos de transferência de renda do governo federal, também foi lembrado. Para o presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Chico Menezes, o programa é responsável por uma mudança social no Brasil. A garantia de uma renda mínima à população mais carente muda não só a realidade daquela família, mas também incentiva a freqüência escolar das crianças e jovens e a capacitação profissional, e altera ainda a realidade da comunidade ao redor, ao estimular a economia local, reforçou.
O representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, José Tubino, faz coro ao ressaltar as vitórias do PAA, programa que considera a porta de entrada do Fome Zero. Ele tem dado dinamismo ao setor, principalmente pelo crédito agrícola, analisou.
Outra iniciativa que tem chamado atenção de Tubino é a alimentação escolar. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Ministério da Educação, quadruplicou o valor repassado diariamente por aluno e já alimenta 36 milhões de estudantes. Para animar a Semana Mundial da Alimentação nas escolas, Tubino lança uma sugestão criativa: servir uma merenda especial aos alunos. Não comemoramos a noite de Natal comendo peru? compara.
O representante da FAO no Brasil observa que a falta de acesso à alimentação não é o único tema discutido durante a Semana. Segundo ele, há uma crise mundial no que diz respeito à qualidade do alimento ingerido e o desconhecimento de informações nutricionais é crescente. Existe um alto consumo de alimentos sem valor nutritivo, com aditivos químicos, excesso de açúcar, sal e de alto conteúdo energético e calórico, o que acaba por aumentar a incidência de doenças crônicas e obesidade, ponderou.
Da equipe Fome Zero
Mariana Moreira – (61) 3433-1057