Educadores(as) populares de todo o Brasil, cerca de 130 pessoas, se encontram de 17 a 20 de julho, no Centro de Treinamento Vicente Canhas, em Luziânia-GO, sob o tema: “Nas rodas da vida partilhamos saberes e reconstruímos a história”.
Memória e solidariedade – Na mística do primeiro dia e ao longo de programação procurou-se fazer memória e criar formas de solidariedade aos educadores(as) de Rondônia e Roraima que foram envolvidos num acidente quando iam participar do Encontro Estadual da Rede-RO que resultou na morte de 15 lutadores(as) do povo, doze deles ligados à Rede e a movimentos sociais e populares da região.
Um poema, escrito por João Santiago, comparou estes educadores(as) à semente, ao chão e à vida. “A vocação da semente é gerar vida”, diz o poema. O nome de cada um(a) dos educadores(as) foi proclamado em voz alta ao som de um tambor que evocou o som das batidas do coração. A plenária também organizou uma carta em solidariedade em memória dos educadores e em solidariedade ao povo de Rondônia e Roraima.
Muitas foram as formas de fazer memória, na conversa entre amigos e com o Leomar Lopes, educador popular de Rondônia que veio ao 9 Encontro Nacional. Também divulgou-se o Fundo de Solidariedade e a conta bancária que foi criada como forma de cobrir os gastos realizados com as vítimas e famílias envolvidas no acidente.
Raposa Serra do Sol – Uma liderança indígena Hudson Macnan, do povo Macuxi, participou do encontro e alertou os participantes sobre a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal voltar atrás na homologação em terras contínuas da terra indígena de Raposa Terra do Sol, localizada ao nordeste de Roraima. Isso, segundo ele, não diz respeito apenas à Roraima, mas a todo o Brasil porque pode ser um precedente para revisar a homologação de áreas indígenas, quilombolas e de assentados.
A terra indígena Raposa Serra do Sol é habitat de 19.078 indígenas que vivem conforme sua organização social, costumes e tradições, em 194 comunidades dos povos Macuxi, Tauperang, Patamona, Ingaricó e Wapichana. Cumprido o dever constitucional, a União iniciou, em 1992, o relatório de identificação da terra. Em 15 de abril de 1995, através de decreto presidencial, foi homologada a portaria 534/MJ, reconhecendo aos povos indígenas os direitos originários e portanto detentores de direito sobre a posso permanente e usofruto exclusivo sobre os recursos ali existentes.
Círculos de cultura – Todo o encontro aconteceu sob a inspiração, na metodologia, dos círculos de cultura propostos por Paulo Freire como espaços de diálogo e troca de experiências entre os educadores(as). Nos círculos de cultura partilhou-se as 27 cartas pedagógicas escritas pelos Estados, outro recurso usado por Paulo Freire, como elemento de troca de experiências e processos. Os(as) educadores(as) destacaram como muito importante este recurso para conhecer as diferentes realidades presentes na Rede.
Os círculos de cultura também foram essenciais para cumprir o objetivo do 9 Encontro Nacional de consolidar a estratégia política da Rede, a partir de um diagnóstico das suas práticas e experiências, e, à luz do PPP, construir um planejamento participativo (2008/2011) com linhas de ação do seu Programa de Formação, sua Política de Comunicação, sua sustentabilidade e organicidade, tendo em vista o fortalecimento do Projeto Popular para o Brasil.
Fórum Social Mundial 2009 – Um tema bastante debatido na linha de um planejamento foi como a Rede de Educação Cidadã vai preparar-se para ir ao Fórum. Ficou acertado que será um processo de preparação que envolverá o antes, o durante e o depois, entendendo isso como um processo e como a possibilidade de aprofundar a realidade amazônica e as questões socioambientais, o modelo de desenvolvimento predatório.
Cada Estado, por sua vez, pensará um processo de aprofundar os temas relativos ao Fórum Social Mundial 2009 em suas oficinas e encontros e também o processo de preparação de seus participantes.
Para além destes temas, o 9 Encontro Nacional também foi marcado por uma riqueza de elementos culturais, da animação e dinâmicas, de mística e da celebração e festa. Este encontro representa, segundo os educadores, uma afirmação de seu programa de formação, sua política de comunicação, organicidade e sustentabilidade.
Willian Bonfim