Livro resgata consciência e cidadania

O gari Jaime Heleno, 39 anos, não imaginava que a escola lhe ensinaria tanto. Há oito meses, ele começou a freqüentar uma turma do programa federal Brasil Alfabetizado, no município de Santa Cruz do Capibaribe, Agreste de Pernambuco. “Abriu minha cabeça. Muda tudo, a gente vai ficando diferente”, atesta.

O gari Jaime Heleno, 39 anos, não imaginava que a escola lhe ensinaria tanto. Há oito meses, ele começou a freqüentar uma turma do programa federal Brasil Alfabetizado, no município de Santa Cruz do Capibaribe, Agreste de Pernambuco. “Abriu minha cabeça. Muda tudo, a gente vai ficando diferente”, atesta. Tanto que percebeu que a filha mais velha, aluna da 5ª série, não estava “tão sabida, tinha coisa que eu respondia e ela não”. Decidiu então levar a menina para acompanhá-lo nas aulas, à noite. Na atitude de Jaime, a base do pensamento de Paulo Freire, expressado no livro Pedagogia do Oprimido: a educação como instrumento de transformação e conscientização.

“Esse livro revolucionou a educação. A partir da Pedagogia do Oprimido não se pode mais ignorar que a educação é um ato político”, destaca o presidente do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti. Redigida durante o exílio em Santiago, no Chile, em 1968, a obra foi inicialmente publicada em inglês, nos Estados Unidos, dois anos depois. No Brasil, só chegou em 1974, quando já havia sido traduzida para o espanhol, o francês, o italiano, o alemão, o grego, o holandês e o português de Portugal.

A Usina Catende-Harmonia, situada no município de Catende, Zona da Mata, é um exemplo prático das idéias expressadas na Pedagogia do Oprimido. Começou em 1995, quando a Usina Catende faliu. Os trabalhadores passaram a administrá-la e mantêm uma cooperativa ali. “O índice de analfabetismo era muito alto, 80%. O desafio foi fazer essas pessoas lerem e tornarem-se cidadãs”, diz o administrador da usina, Marivaldo Andrade. “Conseguimos trazer Paulo Freire para cá, onde ele desenvolveu um projeto de alfabetização. Foi importante porque além de ensinar a ler e escrever, saímos de uma situação de oprimido para a de cidadãos.”

No bairro do Ibura, Zona Sul do Recife, os irmãos Isaías José, 29, e Antônio Vicente, 47, cresceram sem saber ler e escrever. Antônio diz que já passou o tempo de aprender. Isaías pensa diferente. “Eu quero me alfabetizar porque penso em tirar carteira de motorista. Também porque quero melhorar de vida.”

Amigo de Paulo Freire e bastante envolvido em movimentos sociais e educação popular, frei Betto destaca que a maior riqueza do pensamento freiriano foi dar aos oprimidos consciência política e auto-estima. “Seu grande mérito foi trazer para o oprimido a consciência da sua capacidade de protagonismo, de ser sujeito da história. Ou seja, Lula só está na presidência hoje porque existiu Paulo Freire”, observa.

“Aprender é bom para gente, para nosso desenvolvimento. Quem não sabe ler não é nada. Perdi oportunidades, mas agora vai ser diferente. Na escola, a professora nos faz pensar sobre nosso trabalho, o meio ambiente, a natureza. Se Deus quiser, vou continuar estudando”, assegura Jaime, que é evangélico e está contente porque agora entende o que diz a Bíblia. (M.A).

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