No final de semana de 13 a 15 de março de 2009 vários movimentos e entidades da sociedade civil se reuniram para debater o Projeto Popular para o Brasil frente aos princípios da Rede de Educação Cidadã.
A reunião, ocorrida no vilarejo do Engenho das Lages, teve como objetivo o planejamento das atividades da Rede no Distrito Federal. Por convite da Rede, estavam presentes movimentos culturais como Hip-Hop e outros grupos de cultura popular e marginal, pastorais sociais da igreja, movimentos de luta por terra, direitos e trabalho, além de uma série de organizações sociais populares. Um momento de reunião de cidadão e cidadãs para pensar as ações de controle social, conscientização e reivindicação de direitos.
A partir da vivência de uma mistica de mudança da realidade em que se ressaltou a participação coletiva no projeto de nação e as linhas gerais de um projeto com viés de transformar a sociedade, os debates se iniciaram com os fundamentos da nossa organização social.
As modificações provocadas por vários governos populares na América Latina – entre Bolívia, Paraguai, Equador, Venezuela, Brasil, Argentina, Chile e recentemente El Salvador – propiciam uma nova perspectiva sobre o papel do Estado e de sua aproximação das demandas populares. No sistema capitalista, o Estado, historicamente, representou os interesses das elites econômicas, chamadas classes hegemônicas, submetendo os países Latino-Americanos a interesses estrangeiros e em regra de exploração da maioria da população. Com isso, a bandeira da democracia tornou-se um projeto a consolidar-se. Neste cenário, os mais prejudicados são os grupos sociais vulneráveis, empobrecidos sem acesso pleno aos direitos mais básicos: educação, alimentação adequada, moradia, trabalho, terra, saúde, etc.
A medida que as populações sul americanas passaram a identificar estes desequilíbrios com o um projeto de nação neoliberal várias mudanças foram possibilitadas, primeiro por levantes populares diversos, piqueteiros argentinos, sem-terra brasileiros, cocaleiros bolivianos e outros. Depois, através da eleição de personalidades mais progressistas, nos países citados, que partem da idéia de participação popular radical, buscando uma melhor distribuição do poder político na sociedade, utilizando-se de instrumentos democráticos como o plebiscito e o referendo entre outros.
A situação que vivemos tem origens na história de resistência de nossa população contra a desumanização de nosso sistema social, foi assim que o integrante da Equipe Nacional da Rede, Cláudio Nascimento, trabalhou os conceitos de Estado e Políticas Públicas, Sociedade Civil e Democracia Direta, Capital, Trabalho, Cultura e Hegemonia. Além de uma retrospectiva histórica do Brasil desde os anos trinta, com referência aos períodos de fluxo e refluxo da organização do povo brasileiro.
Quanto aos projetos de nação ressaltou-se os prejuízos causados pelo projeto neoliberal e as vantagens e insuficiências do projeto nacional-desenvolvimentista hoje em existente no país. Há uma disputa entre diferentes projetos políticos, em que o nosso é o projeto popular. A este embate deu-se o nome de disputa de hegemonia.
Em seguida foi a vez das participantes construírem coletivamente a metodologia de trabalho junto à população. A partir do Projeto Político Pedagógico da Rede foi discutida a forma de se trabalhar, respeitando os saberes populares e partindo de temas de interesse cotidiano da comunidades. Para tanto, é necessário que as pessoas sejam sujeitos ativos das atividades educacionais sem se deixar depender de auxílios ou do protagonismo de especialistas ou de programas sociais assistencialistas. É preciso também o desenvolvimento de linguagens que tenham sentido para o povo, a cultura se mostra um grande instrumento de luta e resistência popular nesta perspectiva.
Nesta etapa de trabalho as atividades foram uma mescla de teoria e prática, através de exercícios práticos e reflexão sobre como desenvolver uma ação educativa para transformar a realidade para melhor, superando a exploração das pessoas e o sistema capitalista.
Pode parecer distante, mas pudemos perceber como as ações locais pensadas a partir do todo de nossa sociedade podem mudar a realidade. Assim se torna mais fácil entender a construção do socialismo no cotidiano, combatendo a acumulação de riquezas pelos patrões, e buscando uma outra forma de organização da economia. Combatendo a ideologia individualista do capitalismo, que discrimina mulheres, negros e negras, a diversidade de expressão sexual, e principalmente as pessoas pobres. Com isso evitamos comparações com experiências históricas como a União Soviética que deixou de lado a questão da humanização do sistema. A conclusão é: devemos afirmar nossa humanidade negando qualquer forma de opressão ou alienação, buscando a autonomia e o controle dos rumos de nosso país.
Assim vai caminhando a rede. Construindo vários, mesmo que pequenos, centros de resistência às desigualdades sociais, primando pela democracia e aproximando a população do controle de nossa sociedade, com mística, humanização e luta. Pouco a pouco, já que sua ação é limitada, vamos fazendo a diferença sem deixar ninguém de fora. Mesmo em um espaço que é meio governo, e meio movimento social – como a Rede de Educação Cidadã – quando há um projeto popular sendo construído pode haver entendimento e luta real.
Marcel Franco Araújo Farah
Equipe Nacional da Rede de Educação Cidadã – Talher Nacional