A Rede de Educação Cidadã dá mais um passo na construção do Projeto Popular para o Brasil, com a sistematização do Programa Nacional de Formação com universo temático e propostas de atividades formativas.
O exercício permanente de repensar a prática é a marca da Rede de Educação Cidadã. Neste final de semana de 20, 21 e 22 de março, foi experimentado mais um momento de reflexão crítica e de elaboração teórico/prática sobre sistematização de experiências e sobre o programa nacional de formação da Recid. Cerca de cinqüenta pessoas, de todos os estados brasileiros se reuniram em Luziânia – GO, para dar prosseguimento a um trabalho coletivo que já tem história.
O encontro foi regado a música, dança e vivência de relações sociais mais humanas. Algo pouco comum em ambientes profissionais do mercado. Fazer política e mudar o mundo também se trata da vivenciar relações mais humanas. Houve momentos de partilha das experiências de educação e mobilização em cada estado, debate sobre as contradições e os desafios que enfrentam além de produção teórica e prática de saberes.
A metodologia permitiu a visita a diferenciadas e novas linguagens, com respeito à diversidade e com o objetivo de mudar a realidade do nosso país e do mundo, dando voz e vez aos trabalhadores(as), aos grupos que mais sofrem com as desigualdades sociais.
O debate sobre sobre o trabalho de formação, a organização em rede, a comunicação interna e externa e as formas de sustentar (política e financeiramente) a existência da rede perpassaram a dinâmica do encontro, onde também buscou-se entender melhor a realidade e a história e a forma de organizar da Recid uma ferramenta de luta que represente os interesses do povo.
Viver, portanto, a democracia é preciso desde nossa casa até nosso país e experimentar estes valores no encontro, ajudam a sustentar estes sonhos, tornando-os realidade, dando força para que as pessoas exerçam o poder que delas emana para ditar os rumos da sociedade.
A rede planejou ações para os próximos anos tanto de educação, (partindo da realidade de desigualdade da população brasileira); quanto de combate à desigualdade, a partir da intervenção social, com as reivindicações populares, mobilizações por direitos violados, atos políticos, denúncias, controle social, formulação de políticas públicas e idéias sobre um novo modo de produção social.
Após a elaboração do Projeto Político Pedagógico em 2007, a Rede estabeleceu seu marco de referência, seu objetivo político: a construção de um Projeto Popular para o Brasil (PPB) através da metodologia emancipatória da educação popular.
O PPB prima pela democracia participativa, pela soberania entre os povos, pela construção do poder popular, garantia dos Direitos Humanos, além de outros princípios. Nega-se a lógica neoliberal de abandono da sociedade frente ao mercado, e a lógica antidemocrática.
Após a construção deste marco, a rede recria cotidianamente uma forma de trabalho, uma metodologia, buscando trazer a participação da população para o centro das decisões políticas. O controle social, como exercício de cidadania, é um instrumento que melhora o funcionamento do Estado e serve como prática educativa, explana os conceitos de cidadania e revela os papéis do Estado, do governo, das empresas, e com exemplos práticos.
Inspiração da conjuntura – Estamos cercados de exemplos de organização popular neste momento de crise internacional. Há greves em toda a Europa, há expressivas modificações nos governos latino-americanos, há uma necessidade de entrelaçar as várias lutas por dignidade existentes no Brasil.
O exercício da democracia em lugares como a Rede é necessário para construirmos a democracia como um todo. Ao incentivar a participação nos micro cosmos sociais, construímos uma prática democrática que influencia na organização social como um todo e vice-versa.
Em todos os momentos do encontro houve participação intensa de todas pessoas, isso foi marcado não só pela capacidade de mudar o rumo quando foi preciso, mas também por entender que a realidade é bem mais complexa do que um programa pode representar, sendo necessário encontrar formas novas e criativas para dar conta do recado.
A Rede luta para transformar a educação popular em uma política de estado, propondo uma educação sob o controle da população e não somente da instituição "escola" e dos seus "professores". Uma educação que valoriza a inovação científica popular, a repartição dos saberes, assim como de outras riquezas como a terra, água, lazer, etc. Uma educação voltada para os interesses populares, ligada às conjunturas locais, que busque incessantemente a melhora real.
No entendimento dos(as) educadores(as) o trabalho não acaba ao escrever o Programa de Formação; não há uma divisão entre um momento de pensar e o outro de fazer, os dois se dão em conjunto. Desde o 9º Encontro Nacional em 2008 este programa tem sido construído e colocado em prática segundo uma forma de ação-reflexão-ação.
A Rede deu mais um passo de uma caminhada longa, com projetos e programas vivos, em permanente debate. Mesmo percebendo a distância entre a educação popular "que queremos" e a educação popular "que fazemos", as(os) educadoras(es) confirmaram seu desejo de manter viva a idéia da rede, inclusive para depois das próximas eleições. O Encontro deu relevo à necessidade de se manter a Rede apesar do que aconteça, como compromisso com o trabalho, a dignidade, a ética transformadora e humanizante do socialismo, a militância, e a vida.
Marcel Franco Araújo Farah