Pesquisa mostra que negros e índios são minoria na TV

Afro-descendentes e índio-descendentes ocupam um lugar minoritário nos canais de televisão não-comerciais. Esta foi a conclusão da pesquisa “Onde está o Negro na TV Pública?” realizada pela Fundação Cultural Palmares.

 

Durante uma semana foram analisadas as programações transmitidas pelos canais TV Cultura, TVE Brasil e TV Nacional. Ao todo, segundo a pesquisa, apenas 0,9% da grade horária desses canais é voltado para a cultura afro-descendente.

A pesquisa revelou também que em 3,2% da programação, metade dos programas são voltados para as questões étnico-raciais e 13,5% tratam, de alguma forma, sobre a cultura negra e indígena ou pelo menos apresentam alguma forma de representação. Já 82% da grade horária, não abordam, de nenhuma forma, assuntos relacionados a negros ou indígenas.

Segundo o coordenador da pesquisa, Joel Zito Araújo, no estudo foi considerado qualquer menção à visibilidade negra como representações religiosas, comida, música, dança, etc.

Zito acredita que esta falta de pluralismo cultural brasileiro apresentado na mídia, tanto pelas televisões comercias quanto pelas de modelo público, apenas refletem e reforçam o estereótipo euro-descendente. Para ele, isto atinge também a auto-estima de negros e índios, que não se vêem representados na tv. Um exemplo disso, segundo Zito, são os padrões de beleza que os veículos criam. “Hoje todas as apresentadoras de programa infantil são loiras e quanto mais arianas, mais vangloriadas são. Como é que uma criança negra ou indígena pode se identificar com aquelas imagens?”, indagou.

Outra parte da pesquisa quantificou o número de apresentadores e jornalistas afro e índio-descendentes que fazem parte da programação. Foi constatado que 9,4% dos apresentadores e 6,7% dos jornalistas são negros ou indígenas.

Zito acredita que esse número tão baixo de apresentadores e jornalistas negros e indígenas é originado no padrão de televisão que o Brasil segue. “Os apresentadores de programas de auditório são jovens de classe média alta. Hoje, a TV faz uma programação de classe média européia para a classe média européia”, afirmou.

O presidente da Radiobrás, José Roberto Garcez diz ter ficado surpreso com o resultado da pesquisa. Ele considerou que existe uma incoerência, já que a Radiobrás sempre defendeu a diversidade. Garcez afirmou que vai tomar algumas medidas como incluir mais pautas sobre questões étnica-raciais e promover debates na emissora. “A nossa pauta terá sempre que atender a diversidade”, disse.

A pesquisa foi lançada durante o I Fórum Nacional de TVs Públicas, que aconteceu na semana passada. A idéia da Fundação Cultural Palmares é aproveitar o momento de discussão e definição de TV Pública para garantir a representatividade de grupos excluídos na mídia. Segundo o estudo, este fenômeno é um reflexo da falta de políticas públicas que garantam o direito democrático da comunicação.

Joel Zito Araújo, autor do livro A Negação do Brasil – O Negro na Telenovela Brasileira irá desenvolver e aprofundar esta pesquisa. Em julho pretende lançar um livro com esses dados.      

Para ter acesso à pesquisa acesse: http://www.palmares.gov.br/sites/000/2/download/pesqtv.pdf

Veja aqui a cobertura do I Fórum de TVs Públicas

Raquel Mariano, de Brasília, para o Observatório de Favelas

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