Carta Pedagógica – RECID/SP – Janeiro de 2012

O ano de 2011 foi marcado por muitas atividades no Centro Maria Mariá, que de modo especial gostaríamos de partilhar os ciclos de seminários envolvendo a cultura Hip Hop que é um espaço majoritariamente masculino junto com a discussão de gênero nos colégios da rede pública municipal aqui no distrito do Jardim Ângela patrocinado pelo programa VAI  da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo o qual nos possibilitou trabalhar com mais dedicação a tarefa de formação visto que o financeiro tinha este respaldo.

Estas poucas linhas que estamos escrevendo são muito mais no sentido de compreensão das pedras e flores encontradas no caminho da nossa participação no VAI  onde tentamos vivenciar e partilhar o que entendemos como metodologia popular crítica, o que para nós em muitos momentos foi nos apresentando montanhas de tão altas que eram as pedras. Tivemos como objetivo, resgatar a cidadania, os direitos humanos, os direitos da mulher e os sentimentos de solidariedade e identidade entre os grupos de jovens da comunidade. Tivemos como pretensão realizar ações preventivas contra a violência de gênero e o risco da criminalização das mulheres. O que ocorreu através da discussão de gênero trazendo junto o elemento Hip Hop na intenção de integrar a juventude com a qual escolhemos dialogar.

 Vivemos no decorrer das atividades uma fase em que, mais do que outra qualquer tivemos a necessidade de demonstrar o que de fato acreditamos e confiamos ser um caminho possível para a realização concreta da formação em gênero, porém nos deparamos com um público engessado de pensamentos e atitudes, onde buscamos demonstrar que estávamos abertos para o diálogo em busca  da superação de situações limites as quais estes jovens nos trouxeram.

 Porém como todo desafio, este nos trouxe algumas dificuldades, a emergência polêmica cultural em torno da natureza e função da mulher na sociedade provocou uma nova ótica de ressignificação da sexualidade humana.

 Apesar da ocorrência de todas as transformações, no século passado, nas relações de gênero, ainda hoje persiste o quadro de “dominação masculina”. As discussões de gênero implicam em admitir normas, valores, percepções e representações que acompanham a vida de cada sujeito, legitimando sua identidade numa relação de diferentes hierarquias.

 A complexidade e pluralidade das identidades subjetivas e dos  questionamentos das lógicas de poder e de dominação, expressas nos sistemas de gênero, costumam questionar a naturalização que justifica as desigualdades sociais entre homens e mulheres. Isto implica em admitir que além dos fatores biológicos, psíquicos e sociais, outros aspectos podem interferir no desenvolvimento e expressão da sexualidade individual e coletiva.

 Mas também as flores estiveram presentes neste período quando por vezes  sentamos enquanto equipe organizadora e dialogamos sobre as expectativas e dificuldades e conseguimos dar passos significativos, na discussão com a propriedade da metodologia da educação popular crítica. Parece pequeno esse nosso buquê, mas as flores do entendimento e do diálogo que pudemos colher nos reanimaram ainda mais para irmos em busca de novos desafios que é manter este diálogo com os jovens para periferia.

 Porém neste momento, seguimos agora com novos desafios que são discutir sobre a prevenção da dependência química dos jovens e adultos, desenvolvermos meios de comunicação acessíveis a população e junto continuarmos fazendo a discussão de gênero. É importante as sementes lançadas a terra que nós pretendemos cuidar no sentido de estarmos o mais próximo possível das realidades locais na busca da superação das situações limites desses jovens e adultos no intuito de construir caminhos possíveis para trabalharmos para que como já dizia Paulo Freire “Não cabe os opressores libertar os oprimidos, mas os oprimidos libertarem a si mesmo e aos opressores”.

Suzy Torres – Centro Maria Mariá  
RECID/SP – Educadora Popular/Terapeuta Holística  – SP

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