Mais de 60 educacores e educadoras populares participaram do Encontro Estadual da Rede de Educação Cidadã de Minas Gerais, nos dias 14 a 18 de fevereiro, em Belo Horizonte. Os participantes refletiram sobre os lutadores do povo: Josué de Castro, Celso Furtado e Paulo Freire. Também analisaram a conjuntura do país e do estado. O cientista social Rudá Ricci levantou elementos para uma análise política do Brasil, apontando as contradições do governo Lula, no embate entre as ações de políticas neoliberais e progressistas. A pedido dos participantes, analisou esta situação dentro do novo quadro latino-americano, com as eleições dos governantes da Venezuela, Bolívia e Chile, bem como as tendências mais à esquerda de Kischner na Argentina.
Ricci disse acreditar que Lula deve ser reeleito e manter o Brasil numa posição de intermediário entre os EUA e esses países. Salientou a política internacional do país que tem conquistado parceiros importantes na África e na Ásia. Quanto ao estado, Rudá Ricci falou das dificuldades de articulação dos movimentos sociais e da falta de uma ação mais audaciosa por parte dos mineiros. Apontou que, histórica e culturalmente, tanto o país como o estado carregam uma herança colonial muito forte, de dependência e submissão à elite e ao exterior.
A nutricionista e professora Sônia Lucena apresentou a história e o pensamento do médico e político pernambucano Josué de Castro que, nas décadas de 40 e 50, alertava para a fome e a miséria do país e do mundo, apontando como causa um sistema social desigual. Para combater a fome, Josué de Castro elencou várias ações estruturais, como as reformas agrária e urbana. Lucena elogiou o fato de que em Minas a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN – já foi aprovada, por meio do trabalho dos movimentos sociais junto ao Consea – Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável – e alertou para a necessidade de que essa lei seja realmente implementada no estado.
Ruptura e libertação
As teses, obras e vida do economista Celso Furtado foram o tema do também economista e educador popular Thomas Jensen, que destacou a necessidade de ruptura com o sistema sócio-político vintente para que se construa um outro projeto de Brasil, como defendeu Furtado. Thomas fez um paralelo entre o pensamento e a vida de Paulo Freire com os de Celso Furtado.
A educadora do Instituto Paulo Freire, Raiane Assumpção, trouxe a memória e o pensamento freirianos, destacando a educação como instrumento de ruptura com a opressão social para alcançar a libertação do ser humano. Raiane salientou que, para Paulo Freire só o oprimido é capaz de libertar-se e, assim, libertar seu opressor.
Os participantes do encontro também realizaram oficinas com a participação de parceiros e outros movimentos sociais. Foram temas dessas oficinas: Economia Solidária (com a presença do Fórum Mineiro de EPS), Rádio Popular (orientada por membros da UCBC – União Cristã Brasileira de Comunicação), Relações de Gênero (coordenada pelo grupo Graal), Segurança Alimentar (com a participação do Fórum Mineiro de Segurança Alimentar) e Educação Popular (coordenada pelos membros da Recid-MG).