No Ceará, curso incentiva mulheres a deixarem de trabalhar como descascadoras de mandioca para atuar na construção de cisternas
ALAN INFANTE da PrimaPagina
No sertão cearense, cerca de 50 mulheres que trocaram a faca de cozinha pela colher de pedreiro conseguiram aumentar sua renda e estão ajudando suas famílias a sair da pobreza. Elas são ex-alunas de um curso de formação de pedreiras, e deixaram de trabalhar como descascadoras de mandioca para atuar na construção de cisternas. No novo ofício, algumas delas chegam a ganhar até dez vezes o que faturavam antes. Além de mais rentável, a nova atividade permite que as mulheres ajudem a combater um dos principais problemas da região onde vivem: a falta de água.
A iniciativa é resultado do trabalho da organização não-governamental Casa Lilás, que implantou em alguns dos municípios cearenses de menor IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, uma adaptação do IDH aos indicadores regionais brasileiros) o projeto de formação de pedreiras, desenvolvido em outros Estados nordestinos pela rede de organizações da sociedade civil ASA (Articulação para o Semi-Árido), com o apoio do PNUD. No Ceará, a capacitação de mulheres teve início em 2004, nos municípios de Tamboril (IDH-M de 0,620), Novas Russas (0,640) e Crateús (0,676), e agora está sendo estendida a Araripe (0,584) e Salitre (0,558, quarto pior índice do Estado). As pedreiras que se formaram no curso trabalham no projeto de construção de cisternas da Casa Lilás. Antes, elas ganhavam cerca de R$ 0,50 para descascar 50 quilos de mandioca, o que lhes rendia entre R$ 15 e R$ 18 por semana (de R$ 780 a R$ 930 por ano), se trabalhassem em jornada dupla. Na construção de cisternas, elas conseguem faturar mais de R$ 7 mil por ano, segundo a ONG. Além disso, algumas das ex-alunas vão virar instrutoras: os próximos cursos serão dados pelas que aprenderam o oficio na Casa Lilás. O objetivo é, em três anos, capacitar 100 mulheres. Além de ampliar o alcance, essa nova etapa do projeto vai contribuir para a profissionalização das pedreiras, segundo Lurdes Góes, uma das coordenadoras da iniciativa. Agora estamos incentivando o associativismo. Queremos que elas se organizem para pleitear um espaço nos programas governamentais de construção de cisternas [do Programa 1 Milhão de Cisternas], afirma. O passo inicial para incentivar as mulheres a criarem a primeira Associação de Pedreiras do Ceará será dado em novembro, com a realização de um curso de associativismo e cooperativismo. A partir de então, serão realizadas reuniões mensais para que elas se organizem e planejem a criação do grupo.