Há uma mudança qualitativa na conjuntura, a meu juízo. Depois de muito tempo, o campo popular, democrático e de esquerda saiu da defensiva para a ofensiva política no último período, especialmente a partir da vitória do presidente Lula no segundo turno das eleições, com 58 milhões de votos e amplo apoio popular. Senão vejamos
Há uma mudança qualitativa na conjuntura, a meu juízo. Depois de muito tempo, o campo popular, democrático e de esquerda saiu da defensiva para a ofensiva política no último período, especialmente a partir da vitória do presidente Lula no segundo turno das eleições, com 58 milhões de votos e amplo apoio popular. Senão vejamos.
O final dos anos setenta e os anos oitenta, para quem os viveu intensamente e lutou pela transformação econômica, social e cultural, foram de ofensiva política: luta contra a ditadura, redemocratização e Diretas-Já, organização dos movimentos sociais, de onde resultaram CUT e MST, entre outros, mobilização de base das igrejas com as pastorais populares, criação do Partido dos trabalhadores, conquista de governos e mandatos populares. Havia esperança no ar, perspectiva de futuro, a mudança acontecendo no cotidiano.
Os anos noventa, com a derrota de Lula em 89, a queda do Muro de Berlim, a oportunidade histórica da emergência do neoliberalismo, foram de defensiva política: retração e burocratização de muitos movimentos sociais, direitização das igrejas, especialmente a católica, perda de referência, valores, sonhos e utopias, os primeiros sinais de desvios éticos e de corrupção no campo popular e democrático, crescente institucionalização do Partido dos Trabalhadores.
A primeira eleição de Lula não mudou substancialmente este quadro, porque deu-se, assim como os quatro anos dw seu governo, sob a sombra da Carta ao Povo Brasileiro, que mais dizia não não pode fazer isso, não pode fazer aquilo, cuidado com o mercado, a política monetária, os juros, os contratos, etc. do que afirmava um novo projeto. Os movimentos sociais ou se sentiram perdidos, ou se dividiram, ou se fracionaram, ou se tornaram oposição ao governo que ajudaram a eleger. Os problemas éticos se agravaram. Havia mais resistência que construção, à exceção do próprio governo e suas realizações positivas, mesmo em meio a muitas contradições e limites.
O final de 2006 e 2007 anunciam-se sob uma nova marca e novos sinais. A palavra de ordem é Desenvolvimento com Distribuição de Renda e Educação de qualidade, uma proposta ofensiva, de construção de projeto, de afirmação política. Os movimentos sociais se uniram na eleição de Lula, especialmente no segundo turno, e estão debatendo, propondo, através da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e da Assembléia Popular, um projeto de nação e de país, um modelo de desenvolvimento, querendo discutir como fazer a distribuição de renda e garantir a educação de qualidade. O CONSEA está preparando uma Conferência de Segurança Alimentar com o tema central Desenvolvimento sustentável com Soberania e Segurança alimentar. O Movimento Fé e Política está preparando um Encontro para o final de 2007 com o tema central Pelos Caminhos da América Latina, uma nova Terra. A esquerda e centro-esquerda estão ganhando eleições em toda América Latina, como agora na Nicarágua, Equador e Venezuela, ou se afirmando nos países onde não ganharam as eleições, como México, Colômbia e Peru, e abrindo caminho para o MERCOSUL e a Comunidade Sul-Americana de Nações. O povo olha o amanhã com otimismo e quer ou está participando de sua construção.
Estamos, portanto, num momento de ofensiva política, com possibilidades de uma reascenso da luta de massas e popular, da afirmação de um projeto de mudança para o Brasil, a América do Sul e a América Latina. As oportunidades históricas em geral são poucas. Quando aparecem ou são construídas, não podem ser desperdiçadas. Hoje o sentimento de esperança é mais forte que o de derrota ou de impossibilidade. A hora é de estar à altura do momento e da janela que se abre para o futuro e a renovação da utopia.
Selvino Heck
Assessor Especial do Presidente da República