O Fórum Sul Mineiro de Economia Solidária, uma articulação de representantes de prefeituras, ong’s e empreendimentos solidários, com sede no município de Varginha, vem manifestar a sua indignação quanto à fala do Sr. Álvaro Santos Neto, palestrante do SEBRAE, por ocasião do Seminário Comércio Justo e Solidário
O Fórum Sul Mineiro de Economia Solidária, uma articulação de representantes de prefeituras, ong’s e empreendimentos solidários, com sede no município de Varginha, vem manifestar a sua indignação quanto à fala do Sr. Álvaro Santos Neto, palestrante do SEBRAE, por ocasião do Seminário Comércio Justo e Solidário realizado no município de Varginha, no último dia 24 de agosto, no Colégio Marista. O seminário era um dos três realizados pelo SEBRAE/Nacional em Minas Gerais para divulgar as oportunidades do comércio justo e solidário.
Em sua fala, o expositor desqualificou a Economia Solidária, como uma alternativa de organização dos pequenos empreendimentos, valendo-se de expressões boçais e pejorativas. Em tom de deboche, arrancava gargalhadas dos presentes, comparando os que fazem a Economia Solidária com "mulas". O deboche não ficou por aí, numa manifestação de preconceito explícito afirmou que "a economia solidária é coisa de sociólogo".
O palestrante mostrou total desconhecimento sobre o movimento de Economia Solidária, que vem sendo construído com dedicação de profissionais de várias áreas de conhecimento: psicólogos, engenheiros, arquitetos, agrônomos, administradores, economistas, publicitários, etc. Profissionais e/ou futuros profissionais que estão reunidos nas Incubadoras de Tecnologia de Cooperativas Populares ITCP’s, presentes em renomadas instituições de ensino superior de todo o país, como UNICAMP, UFRJ, UFLA, UNIFEI, UFSJ, FGV, UNESP, etc, que por ironia, no dia seguinte a sua grosseria, os profissionais da região sudeste, estavam reunidos a poucos quilômetros dali, no município de Lavras, na UFLA Universidade Federal de Lavras, para justamente refletir sobre a Economia Solidária e a bem sucedida iniciativa de colocar o saber acadêmico a serviço dos pequenos empreendedores populares.
Não se trata aqui de censura à livre manifestação de idéias e pensamento, uma conquista do povo brasileiro que lutou para que a democracia fosse um direito inviolável, assegurando a pluralidade de opiniões. Repudiarmos é a grosseria, o preconceito, o tom jocoso com que desqualificou a Economia Solidária. Ao fazer seu deboche, o palestrante se reportava ao seu estado natal, o Ceará, demonstrando mais uma vez o seu desconhecimento sobre o tema. É justamente daquele Estado, que vem uma das experiências mais exitosas de modelo de uma nova economia baseada na solidariedade, hoje referência nacional e internacional, que são os empreendimentos solidários construídos no Bairro Palmas, um dos bairros mais pobres do município de Fortaleza.
A Economia Solidária como um movimento em construção não escapará da crítica, pois terá grandes desafios a serem superados para se consolidar como um novo padrão de relações econômicas, em que o lucro será substituído pela distribuição justa e a solidariedade entre homens e uma relação harmoniosa com a natureza. A critica sempre será bem vinda, mas o deboche, não será tolerado.
O Fórum Sul Mineiro de Economia Solidária tomado pelo sentimento de indignação, pois esperava que a iniciativa do SEBRAE ao realizar o Seminário Comércio Justo e Solidário em nossa região, se constituísse num momento de sensibilização dos atores locais para a nossa causa, e acabou se revertendo numa tentativa de desconstrução da Economia Solidária pelo Sr. Álvaro Santos Neto. Neste sentido, apelamos à Diretoria do Sebrae, na pessoa do Sr. Diretor Presidente, Paulo Okamotto, para que tome providência para que o SEBRAE se abstenha de ter, em seus quadros, colaboradores, que são remunerados para disseminar preconceitos e ridicularizar os esforços dos que lutam por uma sociedade sustentável.
Ao mesmo tempo, apelamos para que o SEBRAE faça valer seus esforços de ser parceiro dos brasileiros, sendo parceiro também dos Fóruns de Economia Solidária, hoje presentes em todo o território nacional, protagonistas que não devem ser desconsiderados em iniciativas de sensibilização para as oportunidades do comércio justo e solidário.
Varginha (MG), 29 de agosto de 2007.
Coordenação Executiva do Fórum Sul Mineiro de Economia Solidária