A tragédia anunciada da morte sem rosto

Enquanto o Jornal do Commercio produzia este caderno especial sobre a fome no Nordeste, uma criança se foi. Mais uma. Joselânio Ângelo de Oliveira, 5 meses, morreu vítima de desnutrição, no último dia 28 de agosto. Treze dias antes ele havia sido internado no Hospital Regional de Ouricuri, com um quadro grave de carência alimentar.

Enquanto o Jornal do Commercio produzia este caderno especial sobre a fome no Nordeste, uma criança se foi. Mais uma. Joselânio Ângelo de Oliveira, 5 meses, morreu vítima de desnutrição, no último dia 28 de agosto. Treze dias antes ele havia sido internado no Hospital Regional de Ouricuri, com um quadro grave de carência alimentar. O garoto morava em Bodocó, no Sertão de Pernambuco. Joselânio estava inchado, pernas e rostos com as marcas da fome. A transferência foi rapidamente providenciada. Em menos de 24 horas, o menino foi levado para o Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip), no Recife. Joselânio foi forte. Agüentou firme a passagem na emergência, chegou a entrar no processo de recuperação, mas começou a perder peso e não resistiu.

Por culpa do ofício, a nutricionista do Imip Alyne Souza é obrigada a ver crianças como Joselânio perderem a guerra para a mortalidade infantil. Mas não se acostuma nunca. “Quando eles chegam muito grave, fazemos de tudo para tentar recuperá-los. Joselânio estava indo bem. Mas, dois dias antes, começou a vomitar e o peso caiu muito”, contou. No mesmo dia que Joselânio deu entrada no Imip, outro garoto também chegou ao hospital, vindo do mesmo Sertão pernambucano e com o mesmo quadro grave de desnutrição. Wesley Delmondes Souza, 11 meses, morador de Ouricuri, no entanto, teve melhor sorte. O menino conseguiu ganhar peso e está prestes a receber alta.

Júnior, 8 anos, o garoto da foto ao lado, trilhou o mesmo caminho. Ele mora no distrito de Ouricuri e, como muitas crianças do Sertão, quase morre de desnutrição antes de completar o primeiro ano de vida. Foi internado, ganhou peso, mas carrega as conseqüências da infância difícil. Demorou para andar e quase não fala. Vai para a escola, mas não aprende nada. Vai e volta todos os dias, sem conseguir dizer direito o próprio nome.

De tão magro, o menino anda segurando o short que não se sustenta no corpo. Quando arrisca correr, logo tropeça e cai. A mãe diz que ele é “quieto mesmo”. “Desde pequeno que é assim. Tem mais jeito, não. Ele escapou de morrer, mas acho que nunca vai ser igual aos outros”, lamenta Rosilene de Jesus da Silva, 31, mãe de mais cinco filhos. Meninos com histórias que se repetem. Com finais ora previsíveis, ora de superação. Nunca fáceis de contar.

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