O homem por trás da Pedagogia do Oprimido

Paulo Reglus Neves Freire nasceu no Recife em 1921 e faleceu em 1997, em São Paulo. É considerado um dos grandes educadores da atualidade e respeitado mundialmente.

Em 1943 ingressou na Faculdade Direito do Recife. No ano seguinte, casou-se com Elza Maria Costa de Oliveira, professora primária, que exerceria um papel fundamental na vida e na construção de suas idéias. Sobre Elza, dizia Paulo "Ela influenciou-me enormemente. Assim, meus estudos lingüísticos e meu encontro com Elza conduziram-me à pedagogia." (Freire, P. e Macedo, D. 1990, p. 109). Com Elza, teve cinco filhos: suas três Marias, como gostava de dizer (Maria Madalena, Maria Cristina e Maria de Fátima), Joaquim e Lutgardes.
Quase bacharel em direito, aluno do último ano, não precisou de longo "estágio", mas de uma decisiva e inconclusa experiência – a cobrança de um débito – para compreender com clareza que a prática jurídica não poderia ser seu cotidiano profissional. No mesmo ano, 1947, ainda como professor de português no Colégio Oswaldo Cruz, tomou conhecimento do Sesi, onde assumiu a Divisão de Educação e Cultura.

Nos anos 50, o fazer administrativo e a ação pedagógica, inerentes a seu cotidiano no Sesi, o magistério na Escola de Serviço Social de Pernambuco e na Escola de Belas Artes, da Universidade do Recife, onde lecionava história e filosofia da educação, foram as referências regulares de trabalho que provocaram sua criatividade e alimentaram a construção de seu pensamento. Além disso, nos anos 50 e 60, respirava-se no Recife um clima de renovação e de esperança que encontrava no pensamento de Paulo Freire fundamentação e, ao mesmo tempo, o fortalecia.

O advento dos anos 60 encontrou Paulo Freire com todo o delineamento de um pensamento político-pedagógico libertador. O Movimento de Cultura Popular (MCP), o Serviço de Extensão Cultural (SEC), da Universidade do Recife, a experiência de Angicos e o Programa Nacional de Alfabetização, do Ministério da Educação (MEC), foram os campos de exercício da criatividade e das práticas pedagógicas de Paulo Freire, sempre objetos de novas reflexões.

No MCP, como diretor da Divisão de Pesquisa e coordenador do Projeto de Educação de Adultos, promoveu sua primeira aplicação, no Centro de Cultura Dona Olegarinha, no Poço da Panela, Recife. A turma era formada por cinco adultos analfabetos. Dois desistiram. Testemunha Freire: os alfabetizandos eram de origem rural, “revelando certo fatalismo e certa inércia diante dos problemas. Completamente analfabetos.” Já o primeiro teste, no vigésimo dia, alcançou resultados animadores. No trigésimo dia, "liam e escreviam texto simples e até jornal."

Seguiu-se a experiência de Angicos, no Rio Grande do Norte, desenvolvida entre janeiro e março de 1963, sem dúvida o mais expressivo esforço de alfabetização, empregando-se o "método Paulo Freire", então concretizado no Brasil.

A utilização do "método Paulo Freire" em Angicos e no Programa Nacional de Alfabetização (MEC) contribuiu, sem dúvida, para a prisão de Paulo e seu posterior exílio, quando foi deflagrado o golpe de estado de 1964.

Paulo Freire foi preso no dia 16 de junho de 64, acusado de atividades subversivas. Permaneceu 70 dias detido, parte em Olinda, parte no Recife. Partiu, então, para seu tempo de exílio: de setembro de 1964 a junho de 1980. Ficou um tempo na Bolívia e seguiu para o Chile, onde viveu de novembro de 1964 a abril de 1969. Em 1992 escreveu, na Pedagogia da esperança (p. 35): “Cheguei ao Chile de corpo inteiro. Paixão, saudade, tristeza, esperança, desejo, sonhos rasgados, mas não desfeitos, ofensas, saberes acumulados, nas tramas inúmeras vividas, disponibilidade à vida, temores, receios, dúvidas, vontade de viver e de amar. Esperança, sobretudo.”

No Chile escreveu seu primeiro livro publicado comercialmente: Educação como prática da liberdade. Os originais em português da Pedagogia do Oprimido foram igualmente escritos no Chile, entre 1967 e 1968, sendo publicados pela primeira vez em 1970. Neste ano, seguiu para Genebra, na Suíça, onde viveu dez anos. Paulo Freire tinha 43 anos de idade quando partiu para o exílio. Retornou quase 16 anos depois. Em junho de 1979 obtivera seu primeiro passaporte brasileiro. Passou o mês de agosto no Brasil. Mas somente no ano seguinte voltaria para ficar.

No Brasil, São Paulo foi uma opção quase inevitável. Precisava do apoio institucional que lhe assegurasse uma base salarial justa, referência internacional e liberdade para atender aos inúmeros convites para ministrar cursos e conferências fora do País. No mesmo ano de seu retorno, 1980, Paulo decidiu, pela primeira vez, filiar-se a um Partido Político: o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual foi um dos fundadores. Continuou com suas atividades de escritor e educador, assumindo cargos em universidades e ocupando, ainda, o cargo de secretário municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo.

Em outubro de 1986, foi surpreendido pela morte de Elza, sua esposa. Superou a perda com um novo amor: no dia 27 de março de 1988 casou com Ana Maria Araújo. Em fevereiro de 1997, Paulo Freire fez sua última visita ao Recife. Morreu de infarto, aos 75 anos de idade. Algumas de suas principais obras são: Educação como Prática de Liberdade, Pedagogia do Oprimido, Cartas à Guiné Bissau, Vivendo e Aprendendo, A importância do ato de ler.

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