No segundo dia do Fórum Social Mundial, mereceram destaque questões da realidade Pan-Amazônica, região constituída por nove países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. Entre os graves problemas que atingem a Amazônia brasileira está o trabalho escravo, o trabalho infantil, o tráfico de mulheres e a criminalização daqueles que lutam por direitos humanos.
Revista Missões
No segundo dia do Fórum Social Mundial, mereceram destaque questões da realidade Pan-Amazônica, região constituída por nove países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. Entre os graves problemas que atingem a Amazônia brasileira está o trabalho escravo, o trabalho infantil, o tráfico de mulheres e a criminalização daqueles que lutam por direitos humanos. A declaração foi feita por Aldalice Otterloo, membro da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG). Para ela, esses problemas são agravados com a implantação do plano IIRSA – Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana. Trata-se de um mega-projeto que visa a integração regional a fim de garantir o livre fluxo de capitais para o mercado externo. Por conta disso, são invadidas terras de índios e de quilombolas e construídas grandes hidrelétricas, uma espécie de dilúvios programados.
Abrahan Cuellar Araujo, senador da Bolívia, afirmou que existe uma preocupação muito grande da população brasileira e boliviana que será atingida diretamente com as hidrelétricas Santo Antonio e Jirau, no Rio Madeira. “Essas represas, que vão inundar mais de 500 Km², expulsam povos indígenas e ribeirinhos que vivem do rio, agridem o meio ambiente e aumentam as epidemias de dengue e malária, além de causar a morte de muitos peixes ou impedir a sua reprodução”.
O senador ressalta que houve fortes reclamações dos atingidos, mas o governo brasileiro não ouviu a população e segue construindo. “Essa é uma grande preocupação nossa, pois cremos que a água é para a vida e não para a morte. Compreendemos que há necessidade de desenvolvimento, mas o desenvolvimento não pode ser feito expulsando a população e destruindo o meio ambiente”. Araujo menciona o caso da hidrelétrica de Samuel, construída em Rondônia, que trouxe conseqüências terríveis. A maioria dos atingidos não foi indenizada, ficando na miséria. Muitos foram parar nas periferias de Porto Velho, enquanto prosperou o agronegócio. A mobilização de todos é importante para que esse cenário não se repita.
Sempre há alternativas de geração de energia sem agredir a natureza e sem produzir grandes impactos sociais como os que estão ocorrendo. As hidrelétricas do Rio Madeira beneficiarão em primeiro lugar grandes empresas transnacionais, afirma Matheus Ottorloo, da Comissão Pan-Amazônica. “As hidrelétricas são uma praga para a Amazônia. Devemos combater esses projetos. Aquilo que é veia da vida (os rios) acaba sendo transformado em meio de morte. Isso é inadmissível. Para os povos da região Amazônica, o rio é muito mais que uma quantidade de água. É a fonte de vida.” Ele caracterizou as hidrelétricas planejadas para serem executadas na região como “monstros” e “pragas”, uma agressão aos povos que deve ser denunciada.
Para o professor de Geografia da USP, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, a consciência ecológica diante desses problemas é produto de um processo que conta com a fundamental ajuda de movimentos sociais, das igrejas e outros. Enquanto a população não tomar consciência política do problema, acaba sendo vítima da alienação do capitalismo. Ele sublinhou o papel das comunidades eclesiais de base, dos movimentos sociais, das organizações não governamentais para fazer suscitar e fortalecer a consciência dos direitos dos pobres. Na visão do professor, a consciência não é resultado de geração espontânea e nem produto imediato de situações de pobreza ou de injustiças sociais. É uma construção, um processo coletivo. A construção da consciência sócio-ambiental pode impedir a construção de dilúvios programados!