Texto escrito pelas mulheres do MTD para o 8 de março de 2010

O peixe morre pela boca e nós as empobrecidas também. Nem toda comida é alimento.

Neste oito de março de 2010, nós trabalhadoras desempregadas, camponesas, diaristas, empregadas de diversos setores, queremos entender e denunciar como os ricos nos controlam, nos dominam, nos amordaçam também pela comida, alem de super explorar o nosso trabalho. Alem de tornar todo o trabalho doméstico de reprodução da força de trabalho, realizado por nós mulheres invisível, inútil, banal.

 
Quais alimentos são possíveis  de comprar com o pouco dinheiro que ganhamos?

Esses alimentos enchem a nossa barriga, mas eles nutrem e nos trazem saúde?

Quais são as doenças que a maioria de nós tem ou então que nossas vizinhas, parentas, conhecidas, amigas têm?

De onde vem doenças como: diabetes, pressão alta, colesterol alto, vários tipos estranhos de câncer em pessoas novas e até em crianças?

Desde quando os países ricos (EUA e Europa) desenvolveram a indústria dos alimentos transformaram completamente o jeito de nós nos alimentarmos e organizarmos nossa casa. Antigamente os alimentos eram produzidos nas famílias de camponeses, guardados em latas de banha, defumados, não se conhecia produtos refinados, se comprava sal. Os países ricos desenvolveram na segunda guerra mundial produtos químicos, (venenos) para matar seus inimigos o Hitler queria limpar o mundo e desenvolveu a EUGÊNIA, onde os mais bonitos, saudáveis, brancos… deveriam existir sem os impuros, os aleijados, os ciganos, os judeus. Mas essa cara era um louco e depois da guerra tudo isso acabou.

Mas porque estamos falando disso setenta anos depois em um oito de março, o que nós mulheres desempregadas temos a ver com esse assunto?

O fato é que esse assunto não morreu com o fim da guerra. Esses mesmos venenos que logo foram proibidos de serem usados na agricultura da Europa foram trazidos para a América Latina e muito especialmente para o Brasil. Muitas de nós nascemos na roça e viemos para a grande Porto Alegre a vinte ou trinta anos expulsas pela tal revolução verde. Os campos foram lavrados e rapidamente foram virando lavouras de soja. Junto com ela veio o DDT, ou agente laranja, que foram proibidos por matarem sem dó nem piedade, pessoas, peixes, plantas, pássaros…

Esses venenos só foram sendo mais desenvolvidos e piorados para a saúde humana, somados hoje as sementes transgênicas, que ninguém sabe exatamente o tanto de mal que vai nos fazer, só se sabe que vai ser pior.

Esses venenos e essa transgenia esta no azeite de soja mais barato, na margarina, no açúcar refinado, na farinha e no arroz de segunda, produtos que o nosso dinheiro alcança, não porque gostamos de comer coisas de segunda. Mas porque a exploração sobre nosso trabalho é tanta que o que recebemos só dá para comprar isso e sonhar que salsicha tem sabor de carne e se alegrar que uma vez por semana tem carcaça de galinha na refeição principal.

Desse modo, ingerimos produtos que destroem nossa memória, bloqueiam nossos neurônios, intoxicam nossas células, entopem nossas veias, reduzem nossa capacidade de aprendizagem, destroem nossos dentes, nos deixam paradas, desanimadas, algumas de nós até deprimidas.

Assim é fácil de nós, nessa condição, irmos agüentando tantos sofrimentos, tantas carências, tantas doenças, tantas humilhações por parte do estado e ainda nos sentindo culpadas muitas vezes por tudo isso.

 

E os ricos?

Eles comem essa comida?

Eles andam desanimados, doentes e sem vitalidade?

NÃO, eles comem comida orgânica, eles têm qualidade de vida, eles fazem ginástica, eles praticam esportes, logo são mais lindos, saudáveis e felizes é claro.

 

Voltando ao palavrão EUGENIA, que significa limpeza (limpeza dos feios, doentes, incapazes). Os ricos donos das fábricas, donos das sementes, donos dos alimentos, donos dos mercados, portanto donos de nossas barrigas despejam nos pobres essas comidas envenenadas, as quais eles não dão nem para as suas vacas. Lucram no Brasil só em venenos 100 bilhões de dólares, lucram vendendo remédios para câncer e doenças causadas pelos seus próprios produtos químicos, lucram mantendo milhões de pessoas nas periferias comendo a sua própria morte.

 

E o que fazer?

Primeiro entender e saber como funcionam essas coisas, pois quem não conhece o problema jamais encontrará a sua solução.

Segundo, conhecendo esse assunto buscar desengatilhar essa arma contra nós, seja buscando formas de organizar lutas, seja buscando aliança com as lutas das sem terra e das pequenas agricultoras que enfrentam essas questões e justamente por isso tem ido parar no banco dos réus.

Transformar um canto do terreno em uma horta com verduras e chás ajuda a enfrentar esse dragão, voltar a pensar em lutar por um pedaço de terra também é um caminho.

Nós as trabalhadoras da cidade e do campo junto com homens, jovens, crianças e idosos, somos a esmagadora maioria do povo, mas estamos como os bois de canga, desconhecemos a força que temos e seguimos domadas, encangadas, na linha, domesticadas. 

Necessitamos mais do que nunca reunir a nossa força, aquela que carregamos no centro de nosso corpo, que é capaz de gerar outra vida, retirando de nossos ossos, de nosso sangue o que de melhor temos, aquela força que todos os meses se derrama, chora e vai embora para voltar novamente por anos e anos. Essa panela chamada útero e mais nossas panelas diárias de alegrias e sofrimentos, essas panelas que temos que encher com alguma coisa, hoje temos de enche-las com o que rende mais, o que enche mais, porque nada dói mais do que barriga vazia porque a panela esta vazia.

Assim temos de encher o pulmão e a alma para podermos encher as ruas e avenidas. Esse é o único temor dos que nos massacram, dos que nos envenenam, as ruas cheias de gente consciente é o pesadelo da classe dominante.

Temos de preparar um longo e profundo pesadelo para a classe dominante e um longo e belo amanhecer para a classe explorada, dominada da qual fazemos parte. Começamos ou prosseguimos por este começo de março de 2010, mulheres das periferias e do campo na rua, na luta.  

Quando uma mulher avança nenhum homem retrocede.

 

Mulheres do Movimento dos/as Trabalhadores/as Desempregados/as (MTD)

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