Surplus

O premiado documentário Surplus (Suécia,2003) do cineasta e produtor italiano Erik Gandini, desmistifica, materializa e cria um paradoxo na sociedade contemporânea, denunciando as incoerências na política mundial, destacando o posicionamento das corporações multinacionais e seus respectivos líderes diante da caótica aceleração da produção em massa, do desgovernado avanço tecnológico e dos estragos que todo esse processo em excesso vem causando ao meio ambiente.

Inspirado nas idéias do anarcoprimitivista John Zerzan juntamente com o músico/redator Johan Södenberg o autor cria uma compilação de imagens reais utilizando a linguagem do vídeo clipe com inserção de loops e repetições de frases e palavras que ironicamente e sem excessos remetem aos ganchos compulsivos do mundo da propaganda e do marketing capitalista.

O filme inicia mostrando o G8 de 2001 realizado em Gênova, onde pessoas ligadas a grupos antiglobalização e a movimentos sociais, em manifestação pacífica são surpreendidas e agredidas brutalmente pela policia armada, causando morte, feridos e destruição aleatória. Todo esse episódio de imagens tocantes é acompanhado por uma narrativa que descreve com clareza as mazelas que o planeta na sua totalidade vem absorvendo com a ignorância e a ganância do homem manipulado pelas grandes potências que por sua vez dificultam qualquer possibilidade de se resolver essa tragédia econômica, social e ambiental que assola o planeta. O documentário também alerta para as estatísticas assustadoras quando se divulga que o primeiro mundo representa 20% da população mundial e consome 80% dos recursos naturais, o que nos faz acreditar que certamente estamos caminhando para o que Zerzan chama de colapso econômico mundial.

Gandini apresenta uma dualidade onipresente, colocando-nos diante das incertezas que nos cercam, posicionando-nos em um macro sistema, de poucas escolhas, ou quase nenhuma ao mostrar que no socialismo de Cuba os acessos por sua vez restritos alimentam a imaginação, causando ânsia de consumo principalmente entre os mais jovens que sonham em descobrir o mundo das possibilidades.

As políticas predominantes e focadas no filme tem como um corpo estranho a filosofia anarquista representada por Zerzan que ajuda muito na identificação da problemática, mas que está longe de ser a solução ou um caminho a ser seguido.[1]

Com uma temática pouco difundida nos meios de comunicação em massa, Surplus descarrega uma gama de informações questionáveis que circundam o incansável mundo capitalista, marcado pela extravagante sociedade de consumo, sem descartar as deficientes e rigorosas normas da Cuba de Fidel, mostrando carência de reformulação nos conceitos éticos e políticos deixando claro que em nenhum dos sistemas reside a liberdade. Abrindo caminho também para um melhor entendimento dos processos civilizatórios, responsáveis por toda essa herança política que determina,interfere e influencia nas relações sociais e econômicas do mundo, que acabou gerando uma má distribuição de renda que consequentemente vem impossibilitando o desenvolvimento sustentável[2], causando dependência e atraso para os países subdesenvolvidos.

[1] “gostaria de ver um projeto gigantesco de demolição. Pra nos livrar de todas essas coisas.Para arrancar as estradas e as ruas, livrar-nos de tudo isso que se baseia na destruição da natureza” (J. Zerzan)

[2] Trata-se de um abrangente conjunto de metas para a criação de um mundo, enfim, equilibrado.


Resenha escrita por Antônio Costa Júnior.

 


 

Título Original: Surplus: terrorized into being consumers
Direção: Erik Gandini
Fotografia: Carl Nilsson, Lukas Eisenhauer
Edição: Johan Söderberg
Música: Mark O’ Sullivan – The Mighty Quark / Gotan Project / Tosca / David Österberg / Johan Söderberg
Duração: 52 min

 

Um comentário em “Surplus

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

3 + 8 =