Recid realiza 2ª Reunião Ampliada Nacional

De 16 a 18 de setembro, a Rede de Educação Cidadã (Recid) esteve reunida no Centro de Formação Vicente Canhas (CIMI), em Luziânia, Goiás. O objetivo do encontro foi construir as diretrizes organizativas da Rede, dos processos vivenciados, da conjuntura e do aprofundamento em torno da organicidade, além de levantar propostas para o 11° Encontro Nacional.

 

No início da manhã do dia 16, a reunião iniciou com uma mística para animar os participantes do encontro. Grupos foram formados, divididos por regiões do país, para debater algumas questões motivadoras: “Como estamos vendo o movimento do contexto brasileiro nos últimos anos? A partir de quais referenciais fazemos este olhar (com que óculos estamos olhando?)”. Os grupos tentaram responder essas questões nos seus debates. Após a discussão dos grupos, Eliane Martins, do Movimento dos Trabalhadores/as Desempregados/as,  integrante da primeira equipe de educadores/as do Talher Nacional, fez a análise de conjuntura focando no momento histórico que o Brasil vive nos últimos 20 anos.

Ela questionou o aumento dessa nova classe média que está surgindo após o governo Lula. “A partir de que referenciais podemos dizer que a população mais carente está se inserindo na classe média? Será que a classe trabalhadora não está caindo na armadilha de achar que é classe média? E por quê?”, disse.

Eliane propôs fazer uma análise de conjuntura a partir de um referencial do método dialético, analisando a relação trabalho versus capital, seu desdobramento,  contradições e lutas. Ela explicou todo o processo de organização de produção, desde o modo de organização da sociedade em propriedades privadas.  Deu ênfase que toda produção material é social, mas a apropriação do resultado é privada.

Segundo Eliane, “tudo o que se acumula a partir do trabalho (socialista) é privado. Trabalho social versus acúmulo privado. Essa relação é dialética, contraditória. É necessário socializar os frutos da produção”. Ela também criticou o toyotismo, que é um modo de organização da produção capitalista originário do Japão. “O toyotismo se baseia na produção enxuta, barata, proporcionando um consumo cada vez maior para gerar mais lucro”, afirmou.

O reflexo do toyotismo no mundo e com ênfase nos países subdesenvolvidos gerou algumas das fragilidades nas relações trabalhistas, onde os direitos trabalhistas e os vínculos entre proletariado e patrão foram se tornando flexibilizados, processo que exige uma qualificação muito alta e sempre foca na redução dos custos a qualquer preço (exploração, depredação ambiental). O desemprego, nesta lógica, se tornou algo comum, como uma estratégia para evitar as reivindicações e direitos que cada trabalhador necessita.

Com tudo isso, Eliane explicou a forma com que os trabalhadores, muito insatisfeitos também em função da flexibilidade do capitalismo, começam a se organizar em sindicatos, partidos políticos, associações, com a finalidade de reivindicar e garantir seus direitos.  

Inicia-se, então, nos anos 80, o processo de democratização no Brasil, explicado detalhadamente pela palestrante. Ela também falou sobre o neoliberalismo (forma de o capital se organizar internacionalmente), o projeto popular do governo Lula, sempre criticando o capitalismo: “Este sistema estudou cientificamente e psicologicamente o funcionamento do ser humano para nos deixar alienados”.

Ao final de sua avaliação, ela afirmou ser bastante contraditória a coalizão centro-esquerda no Brasil. No entanto, ressaltou a sua importância. “É nela que podemos existir e se organizar para disputar ideias, experiências. Somente há 50 anos, ou seja, há mais de uma geração, houve inclusão social neste país. Depois disso, só agora estamos tendo esta oportunidade. Apesar das contradições, é preciso saber aproveitar este momento”.

Na parte da tarde, os grupos voltaram a se reunir para tentar responder se a análise de conjuntura apresentada pela educadora dialoga com os processos vivenciados nos Estados e como esse processo ocorre. Outra questão debatida foi a forma com que a Recid pode incidir a partir da conjuntura posta.

Eliane explicou que a Recid aglutina movimentos sociais, fóruns, conselhos, conferências. “É um espaço para voz, unidade de bandeiras, contribuição no projeto popular, fortalecimento da economia solidária, do movimento da juventude, dos quilombolas”.

A Rede é um espaço de formação política, uma escola permanente de disputa de idéias que se dá de forma processual.  Para ela existir, é feito todo um trabalho de base, uma crítica ao modelo e disputa de outra visão de projeto de sociedade e de desenvolvimento.

Eliane também falou sobre as dificuldades e os desafios encontrados na Rede, sobre a relação com a institucionalidade. “Um projeto popular é uma perspectiva de poder, para tomar decisões a respeito do conteúdo do projeto. É preciso explorar as contradições nesse momento de inclusão social para avançarmos na busca de nosso projeto de educação popular.”

A noite foi reservada para que educadores/as dos estados tirassem dúvidas sobre a gestão compartilhada na Recid, com questões dirigidas à equipe de Gestão e Sustentabilidade, da qual participam membros da Comissão Nacional, Talher Nacional, Camp e Instituto Paulo Freire.

Por: Daiani Cerezer/D3 Comunicação

Um comentário em “Recid realiza 2ª Reunião Ampliada Nacional

  1. Caros amigo(a)s, fraterno(a)s lutadores e lutadoras, importantes momentos e proposições criamos neste espaço. O desafio e responsabilidade agora é amadurecer e consolidar todo esse diálogo nos estados, junto aos nossos, tecendo forte e coerentemente esta Rede, para que realmente ela se configure num todo tecido a várias mãos, cabeças e corações. Um forte abraço freirian para todo(a)s! Viva aos 90 anos do nosso Educador Paulo Freire! Gilson – Ceará

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