Comunidades se mobilizam por revogação de Tratado Mineiro e expulsão de mineradoras

Fonte: Adital

Autora: Camila Queiroz

Na província chilena de Huasco, no Vale de Huasco, comunidades lutam há dez anos contra os malefícios da atividade mineira, iniciada no local com o projeto Pascua Lama, da transnacional Barrick Gold. Por ocasião do aniversário de 32 anos da comuna de Alto de Carmen, a população realizou protesto e lançou comunicado exigindo a revogação do Tratado de Integração Mineira, assinado pelo Chile em 1998, e a expulsão de todas as mineradoras de seu território.

 

“Queremos continuar vivendo em nosso bonito vale, de maneira sustentável e em tranquilidade. Para isso exigimos: a revogação do Tratado de Integração Mineira (…) graças ao qual se pode levar a cabo grande parte destes projetos contaminantes, assim como a expulsão de todas as mineradoras de nosso território”, frisa.

Com as palavras de ordem “Fora Barrick, Fora Goldcorp e todas as transnacionais do Vale”, “Água sim, ouro Não”, “Barrick mente, contamina e destrói”, as comunidades, com forte ascendência indígena, alertaram que mais de 40% do território (231.868 hectares) está concessionado para mineradoras, principalmente as transnacionais Barrick Gold, Xtrata e Goldcorp.

Até os serviços básicos estão sendo realizados por estas empresas, sob a máscara de “Política de Responsabilidade Empresarial”, o que as comunidades apontam como “uma estratégia de cooptação” e uma forma de expulsá-los de sua terra.

“Continuamos tendo a certeza de que estão nos expulsando de nosso território e obrigando a deixar nossas formas de vida sustentadas tanto econômica como culturalmente em uma tradição historicamente campesina com forte traço indígena, sendo as principais atividades a agricultura ou pecuária”, destacam.

A região está ameaçada de receber outros sete projetos mineiros, pelo que o comunicado destaca que somente um projeto, Pascua Lama, já ocasionou falta de água. “Temos a certeza de que fruto dos trabalhos de sondagem das mineradoras em nossa cordilheira e do início da construção do projeto Pascua Lama a água em nossos rios diminui consideravelmente e de maneira alarmante, apesar de que chove. Situação estranha, já que em anos anteriores, ainda que houvesse grandes secas, os rios se mantinham”, denuncia o texto.

Devido ao uso de produtos químicos nocivos aos seres humanos, animais e flora, a saúde dos moradores também começa a ser afetada. “Na localidade mais próxima ao projeto Pascua Lama, El Corral, há cerca de 20 pessoas com cistos em seus corpos, situação que não tem precedentes; assim como o estranho comportamento e aspecto das águas, pelo que se teme sua contaminação”, revelam.

Para combater a situação, a comunidade não pode contar com a administração municipal, sobre a qual pesam muitas acusações. A primeira delas diz respeito à fiscalização inadequada dos projetos. Segundo a nota, moradores apresentam denúncias, entretanto, os órgãos competentes, ao invés de averiguá-las, pedem provas que só profissionais poderiam reunir. Como a comunidade não as apresenta, por falta de capacidade técnica, os fatos não são investigados.

Um exemplo é o derretimento, em 50 a 10%, de três geleiras afetadas pelo projeto Pascua Lama, aprovado em 2005 a portas fechadas, sem consulta à população. A empresa não cumpre a promessa de preservar os gelos eternos nem de realizar o perigoso transporte de material apenas por uma rota específica, sem passar pelos povoados.

 Outra mostra da relação no mínimo “próxima” entre a Barrick Gold e a gestão municipal é o fato de que a atual prefeita, Nora Rojas, é ex-secretária da empresa.

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