Nossa Palestina é aqui, sua língua o guarani

     Por Eber Benjamim
                                                                                                          
      O governo de Israel foi repudiado internacionalmente pela sua política de assassinatos seletivos, de mortes deliberadas de lideranças palestinas, visando bloquear a luta deste povo pela suas terras, que foram ocupadas com a partilha compulsória da Palestina para criação do estado judeu. Mas esses assassinatos não impediram a continuidade da luta pela criação do Estado Palestino, que hoje, após décadas de dura resistência, já é reconhecido pela maioria dos países do mundo.
Foi no dia 29 de novembro de 1947 que a partilha da Palestina se deu, e desde então este é considerado pelos palestinos como um dia de resistência e afirmação deste povo aos seus territórios tradicionais, sua cultura e seu Estado. E foi também num dia de novembro, 25, no ano de 1983 que foi assassinado Marçal de Souza, líder guarani, um dos símbolos da resistência deste povo contra o extermínio físico e cultural. Duas datas simbólicas, na dura resistência desses povos.
A mesma política de assassinatos seletivos praticada por Israel éaplicada contra os povos indígenas de Mato Grosso do Sul há muito tempo. Um após um, ano após ano, vão tombando suas lideranças, numa “crônica de umas mortes anunciadas”, sob o olhar indiferente do Estado, como se os índios fossem seres humanos de segunda categoria. Caso após caso se encadeiam num fio de sangue onde salta aos olhos a omissão do Estado, em todas as esferas, para com uma situação dramática. Quanto sangue ainda será preciso correr para que se tome uma providência?
Para os que acham exagero essa comparação entre a Palestina ocupada e oprimida e a situação das comunidades indígenas de Mato Grosso Sul, particularmente os guaranis, basta uma visita a suas aldeias. Algumas são quase lugares de confinamento. Nós nos solidarizamos com a luta do povo Palestino, mas não podemos fechar nossos olhos para a nossa própria “Faixa de Gaza”.
Quantos assassinatos mais serão preciso ocorrer para que o Estado faça o que devia ter feito a muito tempo? Pois foi com a cumplicidade do Estado, quando não diretamente por ele, que essas comunidades sofreram o que podemos chamar tecnicamente de genocídio, o extermínio em massa de um povo. Como podemos aceitar que nosso país tenha recursos para fazer uma intervenção “pela paz” no Haiti, com o objetivo de ganhar respeito internacional, quando é incapaz de resolver uma situação que se arrasta a décadas sem sol
ução dentro de nosso próprio território? Que exemplo de respeito aos direitos humanos nós passamos para o mundo?
A política de assassinatos seletivos não impediu a continuidade da luta do povo palestino. A cada líder que tombava, outro ocupava seu posto, porquê as causas da origem daquela luta – a expulsão de suas terras, o confinamento em guetos e a inexistência de um Estado – ainda não foram resolvidas. Da mesma forma aqui. Após décadas de assassinatos seletivos de suas lideranças, de opressão territorial e cultural, os povos indígenas continuaram mantendo sua dura luta pela garantia de seus mínimos direitos, pelas suas terras ancestrais, pelo respeito enquanto seres humanos que tem sua própria história milenar de ocupação do continente americano.
Duas datas, dois dias, duas lutas em pontos diferentes do planeta, mas com um mesmo sentido: o levante de um povo contra a ignomínia, o desprezo, o esquecimento, a opressão material e espiritual. E lá na Palestina, como aqui, essa luta somente terá fim quando for atacada na raiz as causas de suas origens. Nossa Palestina é aqui, sua língua o guarani.
Não te mataram, Marçal, ampliaram a tua voz!


Por Eber Benjamim
(Jornalista, membro do Centro de Documentação e Apoio aos Movimentos Populares)
E-mail: [email protected]

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