Fonte: Brasil de Fato
Autor: Marcio Zonta (Lima-Peru)
Como parte da programação em celebração ao Dia Internacional da Mulher, no último dia 6, camponesas das regiões andinas e amazônicas do país fizeram um debate no Congresso peruano sobre a sua função na sociedade quanto à seguridade do modo de produção agrícola ancestral e o seu papel na defesa da soberania alimentar.
Lurdes Huanca, presidente da Federação Nacional de Mulheres Campesinas, Artesãs, Indígenas, Nativas e Assalariadas do Peru, lembrou que “as mulheres da zona rural estão cumprindo desde tempos milenares um papel relevante na soberania alimentar, garantindo a proteção e o cultivo da terra, contrapondo-se aos modelos de produção globalizados que têm sido um fracasso na erradicação da fome no mundo”.
Por sua vez, a congressista Verônica Mendonza enfatizou que as camponesas peruanas jamais podem ser excluídas do processo de debate sobre o tema agrícola. “Temos que compartilhar e interagir com suas experiências de ancestralidade organizativas e concretas em suas regiões que vem garantido o sustento não só de suas famílias, mas o abastecimento da população peruana.”
Em virtude do seu conhecimento de cultivo ancestral, o Peru está entre os seis principais países do continente com ecossistemas diversificados – no seu caso, contando com a preservação de 25 mil espécies de flora –, conforme recente informe lançado pelo Programa das Ações Unidas para o Desenvolvimento da América Latina e Caribe.
Verônica aponta que nos últimos tempos, a agenda das mulheres, das regiões andina e amazônica, já extrapola antigas inquietudes e problemas. “As camponesas, hoje, atuam em três eixos: a violência contra a mulher, a soberania alimentar e as mudanças climáticas no Peru.”
Mais afetadas
Cerca de 50% da população do país é composta por mulheres, sendo que aproximadamente 40% delas encontram-se no campo, de acordo com estudo do Centro da Mulher Peruana Flora Tristan. A entidade ainda revela que a penúria nas zonas rurais chega a 66% e a extrema pobreza a 30%.
Diante desse quadro, Blanca Fernandez diretora da entidade, alerta que “o impacto da pobreza no campo peruano deixa as mulheres com uma vida caracterizada pela ausência de direitos e o não reconhecimento pelo seu trabalho”.
Mesmo diante das dificuldades, Blanca destaca que dificilmente “as camponesas deixam o campo, diferentemente dos homens, que debandam em grandes parcelas para as cidades em busca de melhores condições de vida”.