Carta Pedagógica de Alagoas

A Rede de Educação Cidadã Alagoas está inserida nas microrregiões do Agreste, Zona da Mata, Metropolitana e Alto Sertão, nosso estado está inserido no semiárido brasileiro, sua geografia é formada por vários municípios de grande e pequeno porte com uma das maiores populações camponesas, de povos tradicionais indígenas, pescadores e quilombolas do Brasil.

De muitas belezas naturais, culturas, tradições e saberes populares variados, Alagoas é historia do Litoral ao Sertão, também de muitos contrastes sociais que se perpetuam na vida do povo, e impedem que a dignidade humana aconteça em sua totalidade.

 

Os camponeses não têm uma verdadeira reforma agrária de acesso a terra, falta uma política agrícola que subsidie a produção de alimentos e façam investimentos em suas pequenas propriedades. Há também um processo de enfraquecimento da luta e desarticulação dos movimentos por Reforma Agrária. Os Povos Indígenas continuam na luta pela demarcação e garantia dos seus territórios tradicionais de uso continuo, em especial destacamos a luta histórica do Povo Xukuru Kariri, que teve seu território de 36 mil hectares, reduzido para 7.33 hectares e mesmo assim não tem uma demarcação efetivada para as 7 aldeias de Palmeira dos Índios. As comunidades quilombolas ainda não têm uma titulação e demarcação efetivada de seus territórios, pois há uma desarticulação por parte do Estado, o que fragiliza a luta das comunidades. Entendemos que só reconhecer as comunidades não garante a posse definitiva de seus territórios.

Nos centros urbanos de nosso estado tem crescido o número de população de rua, miséria e fome, violência, extermínio e criminalização da juventude por meio do tráfico e das drogas. Este cenário de violência gera um senso comum na sociedade, que matar é normal, banalizando a vida. Revela-se assim uma camuflagem em nome de um bem estar social que não existe, continua a propaganda que a cidade é moderna e o campo é atrasado.

A Política partidária segue os moldes de uma falsa democracia que combina corrupção, compra de voto, enriquecimento de pequenos grupos de famílias. O povo continua a mercê deste sistema representativo que não garante bem está social as massas trabalhadoras.

O modelo desenvolvimentista de grandes obras, projetos e empresas do capital chegam por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), sendo que uma das principais é o Canal do Sertão, que vem sendo construído pelo governo do estado e governo federal com a pretensão de acabar com a sede da população da caatinga, cidades do agreste e sertão, porém é muito visível que esta obra faraônica tem destino definido, que sãos os grandes latifúndios de pecuária e monocultivos extensivos de exportação. Ainda falando de grandes projetos destacamos a instalação da Mineração Vale Verde que fará extração de cobre, ferro e ouro. Foram identificados 150 milhões de toneladas de minérios no município de Craíbas e 15 milhões de toneladas no município de Igací, com licença ambiental para explorar durante 27 anos a região, com aval e financiamento inclusive do governo. O Estaleiro,

considerado um dos maiores da América Latina, está pra ser construindo na área dos manguesais, impactando centenas de famílias que vivem da pesca artesanal. A obra de duplicação BR 101, atinge os territórios tradicionais indígenas e camponeses. A região do Baixo São Francisco sofre com às águas decantadas pelos sucessivos barramentos construídos pelas hidrelétricas, esgotos, agrotóxicos e metais pesados, poluem o Velho Chico, para a população ribeirinha chegam às doenças, a falta do pescado, a fome, a miséria e a violência. Estão nas margens do São Francisco os piores índices de desenvolvimento humano da região. A cana produtora historicamente do abuso e exploração e aumento da concentração da terra e da riqueza, continua com seu projeto degenerativo regado ao sangue e suor do trabalhador rural.

Nesta conjuntura de tempos difíceis eis que surgem horizontes de esperança, a Rede de Educação Cidadã tem fortalecido processos em Rede com ações que já vislumbram resultados e são de significados importantes para a luta e unidade da classe trabalhadora: na comunicação popular, junto a Ôtto – Coletivo de Arte Cultura e comunicação no sentido de registrar as ações e lutas dos movimentos, pastorais sociais e povos indígenas. O Grito dos Excluídos tem desencadeado um processo de articulação, de formação e luta das comunidades, ONG’s, Movimentos Sociais, Povos Tradicionais e de terreiro, Pastorais Sociais, organizações juvenis de crianças e adolescentes e de Economia Popular Solidária. Escola Fé e Política Maninha Xukuru Kariri de formação política a Luz do evangelho para a transformação social. Grupos de estudos em educação popular freiriana, a juventude celebra 30 anos de muita luta da Pastoral da Juventude do Meio Popular em Alagoas, construindo sua fé com muitos instrumentos metodológicos muita mística, teatro do oprimido, danças circulares e participação política. Em terras palmarinas o grupo Cultural Vixe Maria, luta e faz transformação soc
ial e preservação da cultura popular com Teatro de Rua,
o objetivo dessas ações é fomentar a discussão, abordando os aspectos da cultura popular, evidenciando as raízes de nossa formação cultural, política e social. Caminhando com passos firmes vamos conseguindo nos fortalecer no compromisso com a militância. Nossas rodas de conversas tem ficado cada dia mais bonita na Tenda Paulo Freire, pois cuidamos uns dos outros nos valendo das práticas integrativas de saúde, o Movimento de Educação Popular e Saúde – MOPS, contribui na discussão da Saúde enquanto direito de cidadania e contra o avanço da privatização do SUS em Alagoas e a privatização do Hospital Universitário. A luta dos trabalhadores sem terra não para, enquanto houver pessoas com necessidade de terra para trabalhar e houver opressão por parte da burguesia, afirmam os trabalhadores do Sertão.

Animados e buscando o alimento necessário para a militância, realizamos o Curso Estadual de Formação em Educação Popular. Como parte do Plano Estadual de Formação. Com o objetivo de dar seguimento aos processos de construção dos grupos de estudos freirianos estadual e microrregionais. A turma foi composta por militantes, educadores e educadoras das diversas organizações, pastorais e movimentos sociais articulados pela RECID, no estado. A partir das seguintes temáticas: Concepção teórico-metodológica da educação popular freiriana; Cultura popular como prática de resistência x cultura de massas; Projeto de sociedade e modelo de desenvolvimento. Participamos da Plenária Nacional da Assembleia Popular e de lá saímos com o compromisso de articularmos o Curso de Realidade Brasileira, sinalizando mais um espaço de formação e reafirmação da nossa luta na construção do Projeto Popular para Alagoas.

Assim podemos afirmar que em uma conjuntura onde o descenso da luta do povo é visível e a hegemonia do sistema capitalista neoliberal impera, em nossos corações está presente um espírito, e uma utopia renovada por meio de uma mística da construção coletiva do novo. Cabe-nos enquanto coletivo em rede aprofundar melhor o papel do Estado no cumprimento e efetivação das políticas públicas. Fortalecer os processos de luta campo e cidade todos os dias. Fortalecer os espaços da organização popular por meio de um amplo trabalho de base, um continuo processo de formação para novos militantes e quadros com compreensão das necessidades da classe trabalhadora. Repensando a convivência com o semiárido e questão ambiental.

Por fim estamos convencidos que este sistema capitalista neoliberal em evidência não serve para a classe trabalhadora. E afirmamos a necessidade de um Projeto de sociedde e popular que vem sendo alicerçadas com as mãos, mentes, corações, educação, culturas, saberes, fé, e política que é o socialismo.

… e foi como se um vento torturando

Até a solidão ou a loucura

Me devolvesse a alma da tempestade!

Você sabia de mim mil anos antes

E trazia no corpo a semente

De novas bandeiras.

Pedro Tierra

Alagoas, agosto de 2012.

Povo Indígena Xukuru Kariri, Comunidade Quilombola do Guaxinim, Movimento Pró – Desenvolvimento Comunitário, Movimento dos Pequenos Agricultores, Lar da Criança, Comunidade Camponesa do Ariado, Núcleo de Cultura Camponesa de Renascença, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo, Escola Fé e Política Maninha Xukuru Kariri, Grito dos Excluídos, Cáritas Diocesana de P. dos Índios, Ôtto Coletivo, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Cooperativa de Bancos dos Pequenos Produtores dos Bancos Sementes, Pescadores Artesanais, Povo Indígena Katokinn e Geripankó, GEAVS, Comissão Pastoral da Terra, Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência, Pastoral da Juventude, Movimento de Educação Popular e Saúde, Centro de Formação em Economia Solidária, Movimento de Cultura Popular, Grupos Esportivo de Jiu Jitsu Pastoral da Juventude do Meio Popular, Rede de Jovens Nordeste, Vixe Maria, Fundação Palmares, Grupo União Espírita Santa Bárbara, Associação da Criança e Adolescente da Chã Bebedouro Escola Estadual Monsenhor Luiz Carlos de Oliveira Barbosa, Articulação dos Povos Indígenas de Alagoas e Sergipe, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Delmiro Gouveia, Quilombolas de Delmiro Gouveia. Grupo de Educação Ambiental Vida no Sertão.

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