Carta Pedagógica São Paulo

 

“Andar só e não estar só. Sonhar o sonho dos ausentes para reparti-lo na chegada.

Compor a imagem do que não vê e vislumbrar outros caminhos que nos levarão.

Abraçar a alma alheia como se fosse minha, estendendo a mão para quem passar; Sonhar um sonho com o nome de revolução.

Pois amar é um ato revolucionário e só se ama quem souber amar”. Prosa – Pedro Munhos

 

São Paulo, agosto de 2012.

Companheiros e companheiras de caminhada da Recid desse Brasil afora, nossas Saudações!!

Aqui no estado de São Paulo estamos em pleno inverno, no interior e também na capital não chove há meses, por isso o quilo do tomate está R$6,00 e o mais barato R$3, 00, mas nada que tire a alegria da feira, principalmente na hora da chepa (último horário em que os feirantes abaixam os preços). Parece que a primavera se antecedeu devido há tantas mudança climáticas e além dos edifícios e todo o concreto das cidades vemos flores por todos os lados. São Paulo é assim de todas as cores e sabores e um imenso e grande quintal que cabe todos os povos, toda a diversidade.

Durante o período de julho foi possível os educadores/as sistematizarem os seus processos em cartas únicas, para no encontro presencial de agosto compartilharmos estas cartas e escrevermos uma carta estadual. Só o processo de cada coletivo ou região escrever e sistematizar as suas próprias ações já foi um momento muito rico. Todos/as da equipe avaliaram a importância de se debruçarem para pensar e escrever suas práticas. Além de servir como um grande instrumento de memória do nosso processo de trabalho, possibilitou enxergarmos os desafios e avanços de cada coletivo.

De agosto de 2011 à agosto de 2012, compreende um período de processo e vivência da equipe com a nova entidade âncora estadual e nacional e também um processo de reestruturação e nova composição do grupo de educadores/as. A Recid São Paulo esta composta por uma grande variedade de coletivos, são eles: Maria-Mariá, o Coletivo Fora de Frequência, A Banca, o Círculo Palmarino, a Casa da Mulher Lilith, a Girassol, o Bloco do Beco, Capulanas Cia de Arte Negra, Umoja, Macambira, o Banco Comunitário Nascente, o Veracidade e a Casa Fora do Eixo São Carlos, sendo que alguns destes ingressaram este ano na rede. Enquanto movimento nacional temos o Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), a Marcha Mundial de Mulheres e o Movimento Hip Hop. E dentro destes existem muitos indivíduos com características de articuladores/as, são educadores/as que pertencem e contribuem a mais de um coletivo, ou movimento e com isto constituem redes e fortalecem os seus trabalhos de base e consequentemente a rede.

Neste ano, o debate sobre os eixos estratégicos fomentados para o XI Encontro Nacional possibilitou à equipe reconhecer as linhas de ações comuns aos coletivos e movimentos e como fortalecer e planejá-las. Pudemos visualizar os nossos eixos através das ações comuns que estávamos desempenhando: Protagonismo Juvenil através da Cultura, Autodeterminação da Mulher, Economia Popular Solidária e Reforma Urbana. Este olhar possibilitou visualizarmos a demanda de expandirmos mais diretamente para os meios rurais e para a luta pela reforma agrária. E também elencamos a demanda de maior aprofundarmos na realidade que São Paulo vive de violência policial, de extermínio contra a juventude, criminalização dos movimentos sociais, tráfico e uso indevido de drogas. Estas são situações que “bérram” em nossas portas, e para atuar em busca do Poder Popular o trabalho de base com estes diagnósticos é fundamental, já existem experiências que indicam que devemos realizar mais formações e compartilhá-las para atuar com estas situações.

Com relação a nossa organicidade foi possível nos dividirmos na seguintes equipes de trabalho: gestão, pedagógica e de comunicação. A cada reunião mensal da equipe estadual é possível avaliar estas equipes de trabalho e tentar planejá-las de acordo com as demandas. Ainda não conseguimos realizar um planejamento de longo prazo, mas ainda estamos experimentando como atuar através delas. A equipe de gestão conseguiu ampliar e compartilhar as suas tarefas com mais educadores/as, mas ainda acreditamos que temos muito a avançar com a gestão compartilhada. A equipe pedagógica e de comunicação foram as que tiveram maiores dificuldades, principalmente por falta de planejamento e comunicação. Nos últimos meses resolvemos adotar a mesma estratégia da equipe nacional e unir as equipes, pedagógica e de comunicação. E após estes momentos conturbados que foram de espera para a realização do aditivo do convênio, iremos realizar um planejamento mais de longo prazo para estas equipes de trabalho estaduais.

Neste período foi possível também estabelecer princípios de participação na rede. Por conta de uma longa vivência, foi possível estabelecer alguns acordos prévios com os educadores/as envolvidos nas atividades e garantir que assumam as responsabilidades pré-definidas coletivamente, facilitando assim a operacionalização do nosso planejamento. Com relação as nossas oficinas de base, não possuímos dificuldades em planejar, articular e realizá-las. Mas apresentamos grandes empecilhos em torno da documentação exigida (CPF) para os participantes, além da exigência de 20 educandos/as por oficina, condições que em nosso entendimento não condizem com os processos da educação popular. Agora a realização de encontros micros regionais e estaduais também estão sendo os mais dificultosos. Existe uma questão central que poderia explicar esta situação: as burocracias que acabam impedindo a execução destes momentos planejados.

Já avaliamos por diversas vezes que estamos deixando os processos formativos de equipe mais de lado por termos muitas demandas burocráticas e de organização para resolver quando estamos juntos/as. Mas mesmo assim já elencamos como primordial focarmos em momentos de formação entre a equipe, desta maneira poderemos até conseguir evitar tantos conflitos de organização, pois será possível visualizar que os nossos problemas se encontram em outros locais e não entre os companheiros/as.

E por falar em demandas burocráticas já estamos bem esclarecidos que vivemos uma realidade de convênios e com isto trazemos juntos vários vícios de organização. Às vezes parece até contraditório, buscamos a construção criativa de um Projeto Popular para o Brasil, mas reproduzimos as mesmas relações viciadas e viciantes do sistema capitalista burocratizado. A nossa relação com a nova entidade âncora nacional e com o marco que regulamenta o nosso convênio não está sendo das melhores. Não estamos promovendo um bom diálogo e estamos submetidos a um sistema de gestão distante da realidade e dos processos vividos no trabalho de base. Acreditamos que este momento de Encontro Nacional de Gestão é fundamental para avaliarmos juntos os pontos negativos e positivos da vivência com a entidade âncora nacional e avançarmos com proposições para incindimos na construção do novo marco regulatório para as organizações sociais.

A nossa relação com a região Sudeste é um ponto que avaliamos com avanços, nestes últimos períodos de reuniões macros preparatórias para encontros/reuniões nacionais pudemos nos afinar e nos preparar melhor. Isto demonstra que estamos buscando nos relacionar melhor em rede para agirmos com força naquilo que acreditamos. Contudo temos muito que avançar no sentido de articulação e trabalho em conjunto. O mesmo vale com relação aos outros estados da federação, existem vári
as práticas em comum: a Economia Solidária, ações culturais, gênero entre outras.

Neste ano foi possível realizar a articulação para a ideia de Fóruns Nacionais de Hip Hop anuais, a partir de Encontro Nacional iniciou-se uma movimentação e articulação de educadores/as pertencentes a coletivos com ações focadas na cultura como ferramenta de resgate histórico e transformação. Acreditamos que a continuação e ampliação deste Fórum, junto com o Primeiro Encontro Nacional da Juventude, tem muito a possibilitar a formações, articulações em busca de organizações populares que fortaleçam a juventude.

Terminamos aqui esta carta com o desejo de que ela sirva de reflexão e crescimento enquanto sujeitos de um processo de construção coletiva e popular. A ideia de produzirmos cartas trimestralmente é muito interessante, pois possibilita avaliações periódicas e o olhar aprofundado sobre os nossos processos. Esperamos que este espaço seja para avaliação interna de equipe e externa de relação com os outros sujeitos da nossa rede e também para relatarmos e registrarmos um pouco da nossa essência.

 

Muito Obrigada pela atenção,

e bom Encontro de Gestão a todos/as.

Com Carinho, equipe da Recid São Paulo.

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