Carta Pedagógica Alagoas (07/2012)

 

…colhida na cuia das mãos para lavar a alma e manter desperto o coração1.”

 

A Rede de Educação Cidadã Alagoas está inserida nas microrregiões do Agreste, Zona da  Mata,  Metropolitana  e  Alto  Sertão,  nosso  estado  está  inserido  no  semiárido brasileiro, sua geografia é formada por vários municípios de grande e pequeno porte com uma das maiores populações camponesas, de povos tradicionais indígenas, pescadores e quilombolas do Brasil. De muitas belezas naturais, culturas, tradições e saberes populares variados, Alagoas é historia do Litoral ao Sertão, também de muitos contrastes sociais que se perpetuam na vida do povo, e impedem que a dignidade humana aconteça em sua totalidade.

 

Os camponeses não têm uma verdadeira reforma agrária de acesso a terra, falta uma política agrícola que subsidie a produção de alimentos e façam investimentos em suas pequenas propriedades. Há também um processo de enfraquecimento da luta e desarticulação dos movimentos por Reforma Agrária. Os Povos Indígenas continuam na luta pela demarcação e garantia dos seus territórios tradicionais de uso continuo, em especial destacamos a luta histórica do Povo Xukuru Kariri, que teve seu território de 36 mil hectares, reduzido para 7.33 hectares e mesmo assim não tem uma demarcação efetivada para as 7 aldeias de Palmeira dos Índios. As comunidades quilombolas ainda não têm uma titulação e demarcação efetivada de seus territórios, pois há uma desarticulação por parte do Estado, o que fragiliza a luta das comunidades. Entendemos que só reconhecer as comunidades não garante a posse definitiva de seus territórios.

 

 Nos centros urbanos de nosso estado tem crescido o número de população de rua, miséria e fome, violência, extermínio e criminalização da juventude por meio do tráfico e das drogas. Este cenário de violência gera um senso comum na sociedade, que matar é normal, banalizando a vida. Revela-se assim uma camuflagem em nome de um bem estar social que não existe, continua a propaganda que a cidade é moderna e o campo é atrasado.

 

 A Política partidária segue os moldes de uma falsa democracia que combina corrupção, compra de voto, enriquecimento de pequenos grupos de famílias.  O povo continua a mercê deste sistema representativo que não garante bem está social as massas trabalhadoras.

 

O modelo desenvolvimentista de grandes obras,   projetos   e   empresas   do   capital chegam por meio do PAC (Programa de Aceleração  do  Crescimento),  sendo  que uma das principais é o Canal do Sertão, que vem sendo construído pelo governo do estado e governo federal com a pretensão de acabar com a sede da população    da caatinga, cidades do agreste e sertão, porém é muito visível que esta obra faraônica tem destino  definido,     que  sãos  os  grandes latifúndios de pecuária e monocultivos extensivos de exportação. Ainda falando de 

grandes projetos destacamos a instalação da Mineração Vale  Verde que fará extração de cobre, ferro e ouro. Foram  identificados  150  milhões  de  toneladas  de minérios  no  município  de  Craíbas  e  15  milhões  de toneladas no município de Igací, com licença ambiental para  explorar  durante  27  anos  a  região,  com  aval  e financiamento inclusive do governo. O Estaleiro, considerado um dos maiores da América Latina, está pra ser construindo na área dos manguesais, impactando centenas de famílias que vivem da pesca artesanal. A obra  de  duplicação  BR  101,  atinge  os  territórios tradicionais indígenas e camponeses. A região do Baixo São Francisco sofre com às águas decantadas    pelos sucessivos barramentos construídos pelas hidrelétricas, esgotos, agrotóxicos e metais pesados, poluem o Velho Chico, para a população ribeirinha chegam às doenças, a falta do pescado, a fome, a miséria e a violência. Estão nas margens do São Francisco os piores índices de     desenvolvimento          humano           da       região. A cana produtora  historicamente  do  abuso  e  exploração  e aumento da concentração da terra e da riqueza, continua com seu projeto degenerativo regado ao sangue e suor do trabalhador rural.

Nesta  conjuntura  de  tempos  difíceis  eis  que surgem horizontes de esperança, a Rede de Educação Cidadã tem fortalecido processos em Rede com ações que já vislumbram resultados e são de significados importantes para a luta e unidade da classe trabalhadora: na comunicação popular, junto a Ôtto – Coletivo de Arte Cultura e comunicação no sentido de registrar as ações e lutas dos movimentos, pastorais sociais e povos indígenas. O Grito dos Excluídos tem desencadeado um processo de articulação, de formação e luta das comunidades, ONG’s, Movimentos Sociais, Povos Tradicionais e de terreiro,  Pastorais  Sociais,  organizações  juvenis de crianças e adolescentes e de Economia Popular Solidária. Escola Fé e Política Maninha Xukuru Kariri de formação política a Luz do evangelho para a transformação social. Grupos de estudos

em   educação   popular   freiriana,   a   juventude         

celebra 30 anos de muita luta da Pastoral da Juventude do Meio Popular em Alagoas, construindo sua fé com muitos instrumentos metodológicos muita mística, teatro do oprimido, danças  circulares  e  participação  política.  Em terras palmarinas o grupo Cultural Vixe Maria, luta e faz transformação social e preservação da cultura popular com Teatro de Rua, o objetivo dessas ações é fomentar a discussão, abordando os aspectos da cultura popular, evidenciando as raízes  de  nossa  formação  cultural,  política  e social. Caminhando com passos firmes vamos conseguindo nos fortalecer no compromisso com a  militância.  Nossas  rodas  de  conversas  tem ficado  cada  dia  mais  bonita  na  Tenda  Paulo Freire, pois cuidamos uns dos outros nos valendo das práticas integrativas de saúde, o Movimento de Educação Popular e Saúde – MOPS, contribui 

na discussão da Saúde enquanto direito de cidadania  e  contra  o  avanço  da  privatização  do SUS em Alagoas e a privatização do Hospital Universitário. A luta dos trabalhadores sem terra não  para,  enquanto  houver  pessoas  com necessidade de terra para trabalhar e houver opressão  por  parte  da  burguesia,  afirmam  os trabalhadores do Sertão.

 

 Animados e buscando o alimento necessário para a militância, realizamos o Curso Estadual de Formação em Educação Popular. Como parte do Plano Estadual de Formação.  Com o objetivo de dar seguimento aos processos de construção dos grupos de estudos freirianos estadual e microrregionais. A turma foi composta por militantes, educadores e educador
as das diversas organizações,   pastorais   e   movimentos   sociais articulados  pela  RECID,  no  estado.  A  partir  das seguintes temáticas: Concepção teórico- metodológica da educação popular freiriana; Cultura popular como prática de resistência x cultura de massas; Projeto de sociedade e modelo de desenvolvimento. Participamos da Plenária Nacional da Assembleia Popular e de lá saímos com o compromisso de articularmos o Curso de Realidade Brasileira, sinalizando mais um espaço de   formação   e   reafirmação   da   nossa   luta   na construção do Projeto Popular para Alagoas.

 

Assim podemos afirmar que em uma conjuntura onde o descenso da luta do povo é visível e a hegemonia  do  sistema  capitalista  neoliberal impera, em nossos corações está presente um espírito, e uma utopia renovada por meio de uma mística da construção coletiva do novo. Cabe-nos enquanto coletivo  em rede aprofundar melhor  o 

papel do Estado no cumprimento e efetivação das políticas públicas. Fortalecer os processos de luta campo e cidade todos os dias. Fortalecer os espaços da organização popular por meio de um amplo trabalho de base, um continuo processo de formação para novos militantes e quadros com compreensão das necessidades da classe trabalhadora. Repensando a convivência com o semiárido e questão ambiental.

  

Por fim estamos convencidos que este sistema capitalista neoliberal em evidência não serve para a classe trabalhadora. E afirmamos a necessidade de um Projeto de sociedade e  popular  que  vem  sendo  alicerçadas  com  as  mãos,  mentes,  corações,  educação, culturas, saberes, fé, e política que é o socialismo.

 

 

 

 

 

… e foi como se um vento torturando

Até a solidão ou a loucura

Me devolvesse a alma da tempestade!

 

 

Você sabia de mim mil anos antes E trazia no corpo a semente De novas bandeiras.

 

 

Pedro Tierra

 

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