Comunicação fortalece resistência popular

A comunicação, numa sociedade democrática, pertence ao povo. Seu espaço é necessariamente público e o único poder legítimo, para regular suas práticas, emana da coletividade. Mas, no Brasil, os dados divulgados pela EPCom (Instituto de Estudos e Pesquisa em Comunicação) apontam para uma realidade de monopólio.

“Dominando o mercado de TV de US $ 3 bilhões, seis redes privadas nacionais, através de 138 grupos afiliados, controlam 668 veículos (tvs, rádios e jornais), instrumentos de poder regional e nacional”.

Uma experiência de comunicação popular, realizada em Águia Branca, distrito de Pedra Torta, no noroeste do Espírito Santo, mostrou que dar a palavra ao povo permite organizá-lo para resistir diante dos conflitos. Para Paulo Freire, “comunicação (é) a co-participação dos sujeitos no ato de pensar… Implica numa reciprocidade que não pode ser rompida. O que caracteriza a comunicação enquanto este comunicar comunicando-se, é que ela é diálogo, assim como o diálogo é comunicativo”.

A comunidade, por meio de um projeto da Ong européia Carbon Trade Wacth, elaborou um vídeo sobre o conflito entre os moradores e o governo federal. “A oficina de vídeo participativo veio oferecer um suporte para que esta população pudesse narrar por eles próprios o conflito, trabalhando técnicas audiovisuais com temáticas voltadas para o esclarecimento de como a grande mídia as utiliza”, segundo Lígia Sancio, integrante da Rede Alerta contra o Deserto Verde, uma das assessoras da oficina.

Resistência e comunicação

O projeto foi desenvolvido para colaborar na luta dos trabalhadores rurais da região que sofriam com a ameaça de desapropriação de suas terras, devido à criação do parque dos Portões Capixabas. O que dava sustento à criação do parque era uma lei federal, do final do governo FHC, aprovada sem consulta popular. Lígia apontou a oficina como promotora de um circuito de intercomunicação dentro das comunidades impactadas, possibilitando uma articulação mais eficaz entre as mesmas, “enriquecendo ainda mais essa articulação quando os relatos pessoais, em torno do problema, são conhecidos numa perspectiva de uma visão mais ampliada”.

A região foi colonizada por imigrantes alemães, poloneses, pomeranos e italianos, na década de 1920, incentivados pelo governo, para dizimar a resistência dos índios botocudos que habitavam aquela área, em nome do desenvolvimento. Cerca de nove décadas depois, os descendentes dos colonizadores sofrem a mesma perseguição e ameaça que os indígenas sofreram, agora, pela criação de um parque, em nome da preservação ambiental. Para Lígia, o produto (vídeo) não foi o principal objetivo da oficina, mas tornar as famílias sujeitos comunicadores de suas ações e histórias.

Música-protesto

Acompanhe, abaixo, a letra do rap “Só a comunicação liberta”, produzido por Wesley “Delírio Black”, do Rio de Janeiro:

É preciso conhecer para saber,
e pra saber é preciso conhecer.
Comunico logo existo,
existindo logo comunico.
“Comunicação é tudo, tudo é comunicação”.
Quem não se comunica se atrapalha e atrapalha aos outros também.
Faça valer os seus direitos, pois, eu não quero só liberdade, quero direitos de expressão.
Quem lê, sabe, quem conhece pode, quem tem dinheiro manda, quem não tem juízo obedece, quem tem rebeldia, reivindica, luta em busca da liberdade, de verdade.
Só a comunicação liberta.

Equipe de produção: Vanda (Paraná), Sheila (São Paulo), Wesley (Rio de Janeiro) e Suzana (Minas Gerais)

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