"Que país é esse?"

   Diante dos últimos acontecimentos, cabe a pergunta de Renato Russo, do Legião Urbana: "Que País é esse?" Ele diz na letra da música: "Nas favelas, no Senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a Constituição/ Mas todos acreditam no futuro da Nação."

   Diante dos últimos acontecimentos, cabe a pergunta de Renato Russo, do Legião Urbana: "Que País é esse?" Ele diz na letra da música: "Nas favelas, no Senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a Constituição/ Mas todos acreditam no futuro da Nação."

    Dois fatos chamam a atenção: a corrupção dos sanguessugas do Congresso e a guerra em São Paulo.

   Segundo as denúncias, centenas de deputados e seus assessores faturam um bom dinheiro com a liberação de emendas na compra de ambulâncias para municípios. Com licitações fraudadas, dirigidas a empresas que entregavam os equipamentos, deputados e assessores eram beneficiados com um ‘por fora’ dos preços superfaturados. Como pode, em um país com tantos problemas de saúde, hospitais com enormes dificuldades de se manter funcionando, alguém roubar dinheiro público que deveria servir para transportar e curar doentes, garantir remédios para quem mais precisa? É difícil de acreditar e impossível de aceitar.

   Já São Paulo, a megalópole no Estado mais rico do país, a que não pode parar, parou; porque o crime organizado assim exigiu e o governo estadual não teve meios de impedi-lo. Aliás, só o conseguiu depois de negociar uma trégua com os chefes da bandidagem. E agora, num horror talvez pior, todos os dias amanhecem dezenas de mortos pela polícia, criminosos ou não, porque como decretou em editorial um jornalão ":…à polícia não restava outro caminho, a não ser aplicar a lei de talião para deter a onda de assassínios e destruição orientada por dentro dos presídios…". Ou como escreveu o jornalista Luís Nassif, relatando o que disse sua filha quando ele lhe telefonou para saber como estavam as coisas: "Tudo calmo. Acho que os bandidos estão com medo do novo governo de São Paulo, o PCC".

   Chega-se a uma situação em que o dinheiro do povo é saqueado e não se pode sair pra rua sem medo. As décadas neoliberais levaram a uma brutal concentração de renda, a um desemprego jamais visto, a uma juventude sem futuro e esperança. As elites brasileiras têm zombado do povo quando são capazes de pagar 900 reais por uma dose de conhaque Henessey no restaurante Fasano, com seus depósitos bilionários no exterior, com sua desfaçatez na ostentação de riqueza e poder. Embora o governo Lula esteja fazendo muito para reverter o quadro, há um longo caminho a percorrer, onde a sociedade civil precisa criar formas de controle social participativo, por um lado, e de solidariedade e ética, por outro, com a eleição de governos e parlamentos comprometidos com o povo e a coisa pública. E assim não precisemos, cantando ou esbravejando, repetir para nossos filhos e netos o brado de Renato Russo: "Que país é esse?"

Selvino Heck

Assessor Especial do Presidente da República

Em dezoito de maio de dois mil e seis

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