As mulheres e a Segurança Alimentar e Nutricional

Falando em Segurança Alimentar e Nutricional, a situação não é diferente: a fome no mundo é maioritariamente feminina. Segundo dados da FAO, na maioria dos países, a fome é maior e mais grave entre as mulheres, principalmente entre as negras. E isso é tão contraditório, quando pensamos que, em todo o mundo, são as mulheres que se responsabilizam pela alimentação de todos!

08 de março,  dia oficial da mulher

Esta data é uma homenagem às mulheres que, neste dia, no ano de 1857, eram operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque. Elas tinham entrado em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Genocídio é o nome do que aconteceu.

De lá para cá, muita coisa mudou, muita coisa melhorou. Mas mulheres do século XXI ainda sofrem uma série de discriminações: de salário, de acesso ao melhores empregos, de acesso à terra e ao crédito público, no meio rural. Sem falar no velho dilema da tripla jornada de trabalho: isso atrasa ou mesmo impede a sua escolarização e a sua qualificação para ascender financeiramente e melhorar a sua qualidade de vida. Devemos considerar que essa situação social discriminatória tem um efeito negativo na sucessão das gerações, perpetuando um modelo distorcido que faz mal para toda a sociedade.

Falando em Segurança Alimentar e Nutricional, a situação não é diferente: a fome no mundo é maioritariamente feminina. Segundo dados da FAO, na maioria dos países, a fome é maior e mais grave entre as mulheres, principalmente entre as negras. E isso é tão contraditório, quando pensamos que, em todo o mundo, são as mulheres que se responsabilizam pela alimentação de todos!

É urgente uma atitude pela a Garantia do Direito Humano a Alimentação Adequada para toda sociedade, com vigilância especial em Crianças e Mulheres. Quando cruzamos os dados da fome com os indicadores econômicos de empregabilidade por Gênero, é mais assustador o caso. Combater a Fome também significa garantia de emprego, salário digno, direito à qualificação profissional, a posse da terra e crédito. E as mulheres devem ter prioridade nessas políticas.

No que ser refere à alimentação, as mulheres prestam um trabalho inestimável para toda a sociedade, e devem ser reconhecidas e valorizadas. Elas detém um patrimônio imaterial histórico e cultural,
são as guardiãs da memória alimentar de um povo. Ainda hoje, mesmo estando cada vez mais presentes no mercado de trabalho, boa parte da tradição alimentar e nutricional passa pelas mulheres: os cuidados
alimentares no domicílio, com a família, sua habilidade biológica de amamentar as futuras gerações, a sua competência historicamente adquirida para administração dos orçamentos domésticos escassos. No
entanto, essas características não são valorizadas, porque fazem parte do que a sociedade espera "naturalmente" que as mulheres façam, pelo simples fato de terem nascido mulheres.

Ninguém coloca a questão de que, para darem conta dessas tarefas "gratuitas" para a sociedade, elas são penalizadas de muitas outras formas. No meio rural, a horta e a produção de alimentos para o auto
consumo é principalmente assumida pelas mulheres. Do mesmo modo, a produção doméstica do leite, o processamento caseiro de alimentos para conservação e comercialização. Boa parte do estafante trabalho feminino, no meio rural, se transforma em renda familiar. Merecemos um reconhecimento traduzido em políticas públicas de inclusão e reparação, que nos valorize enquanto profissionais e cidadãs.

Essa situação só será mudada se rediscutirmos com toda a sociedade o valor do trabalho doméstico e de cuidados com a família, e a necessidade de dividirmos dentro de casa, de forma mais igualitária, essas tarefas. Ao mesmo tempo em que nos qualificamos para poder escolher a melhor forma de nos realizarmos como pessoas, tanto em casa como na comunidade.

Queremos menos pia e mais escolarização, menos panela e mais crédito para montarmos nossos empreendimentos, menos tanque e mais apoio aos nossos projetos. Queremos menos enxada, estar mais no parlamento, nos tribunais, nas cátedras, nos consulados, no meio científico. Queremos conquistar nosso lugar, sem precisar provar todo o tempo que temos um cérebro, ou que não somos mulheres desnaturadas.

Queremos pensar o mundo com os homens, um mundo para todos: pretos, brancos, amarelos, crianças, jovens, idosos sem distinção de credo nem de ideologias.

Assim queremos partilhar com nossos homens (pais, filhos, companheiros, irmãos, colegas, todos) o trabalho maravilhoso de cuidado do corpo, do coração e da mente de toda a sociedade. Juntos seremos melhores.

Companheiro: palavras de origem italiana que significa aquele com quem partilhamos o pão.

Regina da Silva Miranda e Emma Cademartori Siliprandi                                                                                  Conselheira do CONSEA/RS e do CONSEA

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