Mulher,uma rosa cercada de espinhos

Tenho acompanhado muito de perto a luta das mulheres. A partir de minha família, da igreja, dos movimentos com os quais me articulo e do Partido dos Trabalhadores, aonde milito há mais de vinte anos. Tenho, sobretudo, aprendido muito com as mulheres. Tive o privilégio de conviver quase sempre com mulheres apaixonantes e extraordinárias. Apesar de ter sido justamente com duas mulheres, que vivi a mais difícil experiência de minha vida. Experiência de truculência, rejeição, indiferença e assédio moral. Mas estou certo que elas tinham suas causas e no fundo dessas causas, tinham homens que não as faziam felizes.

Tenho acompanhado muito de perto a luta das mulheres. A partir de minha família, da igreja, dos movimentos com os quais me articulo e do Partido dos Trabalhadores, aonde milito há mais de vinte anos. Tenho, sobretudo, aprendido muito com as mulheres. Tive o privilégio de conviver quase sempre com mulheres apaixonantes e extraordinárias. Apesar de ter sido justamente com duas mulheres, que vivi a mais difícil experiência de minha vida. Experiência de truculência, rejeição, indiferença e assédio moral. Mas estou certo que elas tinham suas causas e no fundo dessas causas, tinham homens que não as faziam felizes.

A coisa mais abominável, para o meu coração de poeta e militante, e com a qual convivemos de muito perto, é a violência contra a mulher. Violência que se faz de covardia, preconceito, autoritarismo e insegurança masculina. Violência individual e institucional. As famílias, as igrejas, as empresas e a sociedade, ainda mantém e alimentam suas estruturas em função dessa violência. Violência que, por razões óbvias, é sempre negada e camuflada. Fui educado e vacinado contra este mal, assim como meus irmãos e talvez seja essa vacina que me faz tão incomodado com ele. A violência contra a mulher é a geradora de todas as outras violências. Porque se dá na intimidade do desconforto camuflado do lar; no machismo mascarado de carisma na igreja; nas mais variadas formas de assédios e humilhações das empresas e na conivência da sociedade.

Felizmente, consciente ou não, às mulheres estão levando a discussão para o campo certo. O campo da aliança, da parceria e da comunhão. De fato, Deus nos criou Homens e Mulheres. Assim ele nos criou. Macho e fêmea, Ele nos criou, (Gn 1.27). Inconclusos, incompletos mesmo. Um completa o outro. Precisa do outro. Com igual dignidade, à sua imagem e com a mesma missão: conquistar a sua semelhança. A imagem é a honra, a semelhança é fardo. O desafio de conquistá-la. Sozinhos somos a eterna solidão de Adão. Somos o caos. O sol e a lua isoladamente seriam solidão, sofrimento. Juntos, mesmo com distancia respeitosa, regem o universo. Juntos e em comunhão somos fecundos, (Gn 1,28). Nossas diferenças nos fazem iguais, a mesma carne, (Gn 2,24). O que nos repele é o mesmo que nos atrai. As diferenças. Assim, sempre em conflito, nos tornamos cosmos.

Assim é com alegria que começo a ler e ouvir que a questão da violência contra a mulher é um problema dos homens e das mulheres. Elas estão dizendo: chega de violência, de injustiça, opressão! Eles precisam ser re-educados. Não é mais possível conviver com uma situação em que, a cada 15 segundos, uma mulher é agredida, só no Brasil. É certo que apenas há 15 anos, em 1993, a ONU incluiu na comissão de direitos humanos, artigos para coibir a violência contra a mulher. Que bom que criou. No Brasil, apenas em 2006, há dois anos, aprovamos no congresso a lei Maria da Penha, contra a violência doméstica e familiar. Tudo isso porque metade da população brasileira é composta por mulheres, mas sua representação política é de 13,5 % no senado e de 8,7 % na câmara.

Na maior crise da república brasileira foi uma mulher (Dilma Rousseff) que assumiu o seu coração. A casa civil. E deu conta do recado com sabedoria, autoridade e competência ímpares na história. Novidade nenhuma, em todos os lugares são elas quem assumem os corações de suas famílias, das pastorais e começam a tomar conta das universidades. Na época que a Caixa Econômica Federal se tornou o banco do povo brasileiro, é uma mulher, Maria Fernanda, a sua presidente.

Este ano o dia internacional da mulher foi antecedido por grande polemica. Envolvendo todas as mulheres, mas uma mulher em especial. A igreja. Uma igreja que, apesar de profética, por origem e vocação, cismou em perseguir profetas. Os profetas que poderiam lhe ajudar a fazer o que ela já não sabe mais fazer, caminhar com os pequeninos e preferidos do Reino, ouví-los, ela os silenciou a todos. É como uma mãe que não educa os filhos para lavar a louça e berra dentro de casa se autoflagelando. É uma igreja que tem o maná para alimentar os filhos, mas prefere alimentá-los com sopinha enlatada e bolacha recheada. Subtraiu de sua vocação materna, a principal qualidade. O diálogo. Assim só resta a violência, a demonstração frustrada de força e poder. A excomunhão. Aonde a gente passa esse é o assunto. A menina pernambucana de nove anos, estuprada pelo padrasto, grávida de gêmeos há quatro meses e que abortou as crianças. Com o consentimento da mãe, o respaldo da justiça e a condenação da igreja.

Entre tantas opiniões e protestos ouvi este que me chamou a atenção: “o que essa igreja faz alem, de excomungar as pessoas?” E acrescentou: “sorte dela que Deus é amor e não excomunga ninguém”. Fiquei pensativo e lembrei-me da campanha da fraternidade. O momento onde a igreja dá sinais concretos de que ainda sabe o caminho da Galiléia. Não poderia lançar de forma mais contraditória e infeliz a 47ª edição da Campanha da Fraternidade, cujo tema é: “Fraternidade e Segurança Pública”, e o lema é: “A paz é fruto da justiça” (Isaías 32,17). Não discutimos nem estudamos na igreja sobre esses temas sempre tão relevantes e muito mais neste nosso tempo veloz. Sem instrução, sem investir na formação de homens e mulheres cristãos conscientes só resta o grito, a arrogância.

Poderíamos fazer uma pesquisa e ver em quantas paróquias existe uma biblioteca que minimamente contenha alguns dos 16 documentos do Concílio Vaticano II, as principais encíclicas, sobre tudo as que tratam da vida, os documentos conciliares. Ou ainda aonde acontecem cursos de teologia ou grupos de estudo desses documentos com orientadores preparados.O extremismo, a arrogância na comunicação, nos faz lembrar um velho político velho brasileiro que disse: “estupra, mas não mata”. E a igreja não pensa assim. A postura prepotente ofusca o que se faz e joga luz apenas no como se faz. É inevitável pensar, como agiria Dom Hélder Câ
mara, modelo de seguimento de Jesus, cujo centenário de nascimento comemoramos este ano, nessa situação? É preciso ter claro, a essas alturas, que, talvez da igreja o bispo tenha o poder de excomungar, mas do Reino não. É certo que muitas vezes são os homens o principal espinho que fere as rosas mulheres. Que não seja a igreja espinho no caminho dos pequeninos do Reino. Ela pode está perdendo uma excelente oportunidade de evangelizar para a liberdade.

Brasília, 09 de Março de 2009.

João Santiago é teólogo, poeta e militante.

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