Fórum da Igualdade apresenta propostas na Cúpula dos Povos

A oficina “Sem justiça social e ambiental não há futuro”, proposta pelo Fórum da Igualdade através do presidente da CUT/RS, Claudir Nespolo, ocorreu na tarde do dia 16 de junho na Tenda Religiões por Direitos no Aterro do Flamengo/RJ. O objetivo da oficina foi debater alternativas de desenvolvimento que assegure justiça social e ambiental.

“Agradeço a todos que se empenharam em realizar as duas edições do Fórum da Igualdade em Porto Alegre: Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul, Centro de Estudos Bíblicos no Rio grande do Sul, Comunidades Eclesiais de Base, Federação dos Metalúrgicos do RS, Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, Federação Gaúcha das Associações de Moradores, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Instituto de Direitos Humanos e Estudos Sociais, Instituto Justiça Fiscal, La Integracion, Movimento dos Trabalhadores Desempregados, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Sindifisco Nacional e Via Campesina”, destacou inicialmente Nespolo.

Representando o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, Dão Real Pereira falou sobre os objetivos do evento que foi criado em 2011. “Trata-se de um evento anual de acumulação do pensamento da esquerda sobre os rumos do desenvolvimento e do enfrentamento das injustiças típicas da sociedade capitalista. O FI também é um contraponto ao Fórum da Liberdade, evento realizado anualmente em Porto Alegre que reúne o pensamento neoliberal.”

Dão também fez uma retrospectiva do evento. “Na primeira edição, o FI debateu a democratização dos meios de comunicação, o marco regulatório, a liberdade de expressão e o fim do monopólio dos meios de comunicação no Brasil. Em 2012, a temática do II Fórum da Igualdade foi “Sem justiça social e ambiental não há futuro” abordando o modelo de desenvolvimento e sustentabilidade; papel do Estado e a crise capitalista; paradigma do consumo e a crise ambiental acumulando a reflexão para a Rio + 20.”

Após essa contextualização, a mesa, coordenada por Nespolo, foi composta por Plínio de Arruda Sampaio Júnior, bacharel em Economia pela Faculdade de Economia e Administração da USP, Solange Teles da Silva, professora de Direito da Mackenzie/SP, e Marijane Vieira Lisboa, professora de Sociologia na PUC-SP.

Plínio destacou que o capitalismo debilita a capacidade do Estado de limitar o capital, causando a depredação do meio ambiente e a exploração do trabalho. “O Brasil está inserido hoje numa globalização que desencadeia um processo de reversão neocolonial.” Segundo o professor da USP, o capitalismo aumenta as desigualdades, inviabiliza a vida no planeta destruindo o meio ambiente e retira cada vez mais direitos dos trabalhadores. “Não há nenhuma condição de igualdade e crescimento no capitalismo”, enfatizou. Plínio finalizou sua fala defendendo “uma perspectiva da luta socialista para que a sociedade tenha algum horizonte sinalizador à luta dios povos.”

Solange abordou mais o aspecto ambiental propondo igualdade entre os setores. Ela defende tratamento igual para o agrobusiness e o pequeno agricultor. “Enquanto eles forem tratados de forma diferente, as desigualdades não vão diminuir. A mídia também precisa nos tratar igual aos demais, pois não temos espaço nem para expor nossos pensamentos.” Segundo ela, é preciso repensar a igualdade a respeito das diferentes formas de ser e de viver neste país.”Se sairmos daqui com alternativas possíveis para realizar esta transição através destas mudanças estruturantes, as regras não serão ditadas pelas ‘autoridades’ da Rio+20.

Marijane destacou a justiça ambiental em sua fala e das diferenças existentes entre os diversos setores da sociedade. “Há uma imposição de valores e interesses em detrimento de outros valores e interesses e como podemos dizer que uns valem mais que os outros?” A professora responsabilizou toda a sociedade por este caos em que estamos vivendo. “Somos extremamente responsáveis por essa catástrofe quando nos conscientizamos de todos esses problemas e não tomamos nenhuma atitude a respeito.”

Debate

Após as explanações, o debate foi aberto para que o público pudesse fazer suas intervenções.

Leonardo Melgarejo, representante do INCRA, falou que somente com esperança e indignação haverá mobilização da sociedade.

Claudir Nespolo questionou a fala de Plínio quando disse que os Estados estão cada vez menores e subordinados ao rentismo.”Há expectativa de mudar isso ainda?”, perguntou.

Esclarecimentos dos integrantes da mesa

Plínio afirmou que a luta de classes e os problemas com o meio ambiente, frutos do capitalismo, não serão solucionados dentro da ordem principalmente quando a ordem gera a barbárie, que é o que estamos vivendo hoje. Também propôs a aplicação de 25 a 30% do PIB para políticas públicas, o que já ocorre nos países desenvolvidos.

Solange apresentou o cooperativismo e sistemas mais solidários como alternativas para um desenvolvimento sustentável.

Marijane defendeu a reforma agrária, o fim dos trangênicos e a assistência técnica como medidas urgentes para que as desigualdades diminuam neste país. Em uma segunda etapa, deverá haver investimentos na educação, saúde e segurança.

Ao final, Dão Real leu a moção com propostas de mudanças a este sistema. Leia abaixo a moção na íntegra:

Rio de Janeiro, 16 de junho de 2012
 
M O Ç Ã O
  
Os organizadores e participantes da oficina Fórum da Igualdade: MODELO DE DESEVOLVIMENTO, PAPEL DO ESTADO E PARADIGMA DO CONSUMO E CRISE AMBIENTAL, realizada no dia 16 de junho de 2012, na Cúpula dos Povos na Conferência Rio +20, entendem que é necessário promover uma revisão nos fundamentos que devem balizar a organização social das populações mundiais. Como contraponto às posições doutrinárias hegemônicas que são impostas como verdades únicas e que se baseiam na liberdade total às chamadas forças do mercado com redução do papel do Estado ou sua subordinação aos interesses dos detentores de capital e que se funda exclusivamente no individualismo, propõe-se a constituição do FÓRUM PERMANENTE DA IGUALDADE com o objetivo de resgatar as razões e os fundamentos que justificam a existência da própria sociedade, como organização; debater, formular e apresentar as propostas para a construção de uma sociedade justa, livre e solidária; denunciar a desigualdade; e construir a partir dos movimentos de base as condições para a emancipação da sociedade.

Redução das desigualdades

É preciso promover permanentemente a redução das desigualdades em todas as suas dimensões, social, econômica, ambiental, regional, entre as nações, de gênero, de raça e de oportunidades, mas respeitando às diversidades culturais de todos os povos.

A erradicação das desigualdades, típicas de sociedades que possuem um regime de classes baseados na segregação social, impõe a inversão na prioridade das políticas públicas, colocando as políticas sociais como prioridade absoluta do Estado.

A perspectiva baseada na intolerância com a desigualdade coloca as reformas estruturais – agrária, urbana, educacional e ambiental -, e o problema da segregação social no centro do debate.

A redução das desigualdades com vistas à sua eliminação pressupõe a definição de indicadores que estabeleçam em cada momento o limite acima do qual a desigualdade passe a ser considerada intolerável e a construção de mecanismos sociais, legais e políticos que obriguem os Estados Nacionais a priorizar a implementação de açõe
s com vistas a sua diminuição.

Qual o limite para que a desigualdade seja considerada intolerável em cada momento? A resposta a esta questão é que permitirá que a sociedade possa transpor o campo do teórico do discurso e das propostas para alcançar o campo prático das políticas públicas e da responsabilização dos agentes públicos. O senso comum é de que todos (ricos e pobres, governos e empresários, homens e mulheres) condenam a desigualdade, mas muito poucas ações são implementadas para a sua erradicação, e quando são feitas conforma-se com reduções residuais, sem romper com o modelo e  a lógica econômica dominante que constitui a verdadeira causa da exclusão social.

Ao se estabelecer o limite, a partir do qual a desigualdade passe a ser considerada intolerável, sempre que este seja ultrapassado, deverá haver uma transferência prioritária de renda de uma classe social a outra, via políticas públicas e imposições fiscais, para retomar o limite aceitável. A definição deste limite constituirá, portanto, um pacto social de solidariedade que não impede o crescimento individual de todos os agentes sociais, mas estabelece um teto que se vincula ao piso, ou seja, a partir de um determinado limite, a acumulação de riquezas pelas classes mais altas implicará necessariamente a elevação dos padrões das classes que constituem a base da pirâmide social, transformando o círculo vicioso da concentração de riquezas num circulo virtuoso da emancipação social.  

Qual seria este limite? Independentemente do limite estabelecido como tolerável, a partir do qual todas as políticas públicas deveriam ser priorizadas para a sua redução, é perfeitamente razoável supor que este limite não poderia ser inferior àquele que permitisse garantir a todas as pessoas condições dignas de vida, com acesso à alimentação, à educação, à saúde, à moradia, à seguridade, à justiça e à segurança, e com respeito as diversidades culturais e de valores de todas as populações.  

Este conceito de limite a partir do qual a desigualdade passe a ser considerada intolerável deve ser extrapolado para o ambiente internacional, servindo de parâmetro também para políticas e acordos entre países, de tal forma que a desigualdade mundial entre as pessoas e entre os países também fossem submetidas a um limitador, que sirva para promover a redução acelerada das desigualdades mundiais.

A opção da humanidade pela vida em sociedade pressupõe o bem geral que pode ser resumido pela garantia de condições dignas de vida a todos.
A definição deste limite para a desigualdade não significa, de outro lado, aceitação da desigualdade, mas tão somente a criação de um parâmetro que estabeleça responsabilidades tanto dos entes públicos como da própria sociedade. Sabe-se, no entanto, que a finitude dos recursos naturais não autoriza a permanência do atual paradigma de produção e de consumo tal como nos tem sido apresentados. Portanto, a continuidade do modelo de produção, de consumo e de desenvolvimento nos termos do que é hoje, só é possível com a ampliação e aprofundamento das desigualdades. Aliás, os princípios de solidariedade e de igualdade não são sequer cogitados pelos defensores do atual modelo econômico de desenvolvimento.

A redução das desigualdades, neste contexto, dependerá fundamentalmente de um amplo e contínuo processo de redistribuição das riquezas.

Condições Estruturais:

A implementação efetiva de um novo modelo pautado num limite em que a desigualdade passe a ser intolerável e na garantia de condições dignas de vida para todos, inclusive e especialmente para as gerações futuras, implicará a criação de uma estrutura de Estado que seja realmente capaz de, em nome de um interesse maior da sociedade, impor medidas de regulação e implementação de políticas públicas redistributivas, ainda que contra o interesse de grupos econômicos poderosos. Para isso, é preciso que a sociedade, de forma organizada, tenha condições de exercer sua soberania de povo controlando, participando e definindo as diretrizes para a construção desta nova sociedade.

Para que isso só seja possível, será necessário que os próprios Estados nacionais instituam, em nome da sociedade mundial, mecanismos supranacionais que coordenem os esforços, imponham os limites e regulem as relações com vistas a garantir a dignidade a toda população e a redução gradativa, mas acelerada da desigualdade no mundo.

Condições Instrumentais:

Diversos são os mecanismos de que dispõe a sociedade para iniciar sua caminhada no sentido da redução das desigualdades e na garantia de condições de vida digna a todos.

Um dos instrumentos mais importantes é o sistema fiscal dos países. Tanto na definição e  cobrança dos tributos como na aplicação dos recursos públicos, os Estados nacionais já poderão promover uma substancial redução da desigualdade, na medida em que sejam definidos sob a lógica de tirar mais dos ricos do que dos pobres (tributação) e devolver mais aos pobres do que aos ricos (gastos públicos). Assim, pela transferência direta ou indireta de renda entre as camadas sociais, o Estado poderá atuar como um importante e fundamental agente da justiça social. Outras formas são a implementação efetiva das grandes reformas estruturais, como a reforma agrária, urbana, educacional e ambiental.

Fórum da Igualdade 2013

Em abril de 2013, teremos a 3ª edição do Fórum da Igualdade, que acontecerá nos dias 8 e 9 de abril.

Acompanhe a programação no site: www.forumdaigualdade.org.br

Por: Daiani Cerezer

Um comentário em “Fórum da Igualdade apresenta propostas na Cúpula dos Povos

  1. Gostaria de solicitar uma correção no texto ja que houve erro na transcrição da minha fala e que não reflete o que eu penso: eu não afirmei que temos que “tratar igualmente o agrobusiness e a agricultura familiar” ja que isso seria reproduzir a desigualdade.

    O que eu disse é que a Constituição assegura igualdade a todos e a todas. Entretanto essa igualdade formal não se reflete em uma igualdade material. Isso faz com que tenhamos que dar condições diferenciadas a setores que tem menores possibilidades. Tratar de forma desigual os desiguais para alcançar a igualdade. Dessa forma não da para tratar de forma igual agricultura familiar e agronegócio. A agricultura familiar, responsável por produzir 70% dos alimentos a nossa mesa deve ter um tratamento diferenciado, para então poder ter as mesmas chances que o agronegócio, para que então possamos alcançar condições de igualdade entre os dois setores produtivos.
    Profa. Dra. Solange Teles da Silva

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

9 + 3 =