Economia solidária, oportunidade para além do Bolsa Família

Governo aposta na atividade econômica de espírito socialista como alternativa financeira para quem vive de transferência de renda. Missão de 350 pessoas pretende levar a economia solidária a comunidades atendidas pelo Bolsa Família.

O governo prepara-se para executar uma operação que vai, ao mesmo tempo, espraiar a cultura economia solidária pelo país e oferecer esta atividade econômica de espírito socialista como caminho de independência financeira para pessoas que se sustentam com o Bolsa Família. Um exército de 350 pessoas será encarregado de levar a bandeira da economia solidária pelo Brasil e procurar oportunidades de desenvolver a atividade, e o foco da missão serão famílias e municípios atendidos pelo principal programa federal de distribuição de renda.

O trabalho começa nesta quarta-feira (7), com uma fase inicial de treinamento do batalhão que vai até o próximo domingo (11). Depois, o grupo vai produzir relatórios em que aponta possibilidades de desenvolver economia solidária nas pobres regiões favorecidas pelo Bolsa Família. Os diagnósticos vão orientar a criação de pequenas unidades produtivas locais seguindo a vocação regional. Por exemplo: unir moradores de uma área rural em torno da produção de alimentos. “O emprego capitalista não chega a estas comunidades, e o material humano lá não é competitivo. O auto-emprego coletivo é uma saída”, afirma o secretário Nacional de Economia Solidária, Paul Singer. A economia solidária é um tipo de atividade econômica orientada pelo bem-estar dos sócios dos empreendimentos, não pelo lucro. Ninguém é patrão de ninguém – todos os envolvidos são iguais.

A iniciativa será financiada pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), repartição do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), junto com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), que distribui o Bolsa Família. A aliança começou a ser articulada no mandato passado, e agora está pronta para sair do papel. É uma das apostas do governo para servir de “porta de saída” de pessoas que recebem Bolsa Família, embora o MDS rejeite a expressão “porta de saída”, pelo tom pejorativo, que remete a “expulsão”. “O programa vai promover a inclusão econômica de uma população alijada de uma série de processos, a partir do desenvolvimento da economia local”, diz a diretora do Departamento de Proteção Social Básica do MDS, Aidê Cançado Almeida.

Com a parceria, a economia solidária pode fazer a cabeça de 11 milhões de famílias, número de beneficiados pela transferência de renda. É uma “clientela” numerosa que pode multiplicar a parcela de 1,2 milhão de empreeendimentos solidários. E, segundo Paul Singer, é preciso levar em conta ainda as cercanias das populações favorecidas com o Bolsa Família, o que eleva ainda mais o público potencial da atividade de "espírito socialista".

A parceria nasceu, aliás, de um programa que a Senaes já tem, chamado Agentes do Desenvolvimento da Economia Solidária. Hoje, 252 agentes atuam em regiões onde já existem empreendimentos solidários, com a missão de ajudar a atividade. Eles próprios são sócios de empreendimentos e recebem R$ 400 mensais extras do governo. Orientam 35 mil famílias, em 200 comunidades diferentes. O trabalho concentra-se em áreas específicas, como quilombolas na Amazônia e apicultura no Nordeste, o que não vai acontecer com o batalhão extra de 350 pessoas.

A ampliação do programa contará ainda com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), porque também levará em conta a Agenda 21, uma espécie de carta de princípios sobre desenvolvimento sustentável local que deve nortear a formulação de políticas públicas.

André Barrocal – Carta Maior

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